Presidente da República conta com o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para converter votos.| Foto: Alan Santos/PR
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A agenda da primeira-dama Michelle Bolsonaro e seus discursos durante o período eleitoral revelam a estratégia traçada pelo comitê da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que ela possa converter, consolidar e ampliar votos para seu marido. Com participações em eventos ao lado do presidente e falas direcionadas a segmentos sociais específicos, Michelle tem exercido um papel para reverter os índices de rejeição de Bolsonaro entre alguns grupos do eleitorado (como as mulheres e os mais pobres) e aumentar as intenções de voto em segmentos em que ele já se sai bem (caso dos evangélicos).

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Michelle Bolsonaro também tem a missão de dar um tom de maior "sensibilidade" a Bolsonaro. O diagnóstico feito pelo comitê da campanha é de que ele tem uma imagem muito "dura" e "bélica" – e que a primeira-dama pode amenizar essa percepção. Isso já está sendo feito em eventos dos quais ela participa; e em breve a primeira-dama deve aparecer no programa eleitoral da TV e do rádio.

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"Acho que ela desconstrói a imagem negativa e errada que a imprensa faz com relação ao presidente, dizendo que ele é machista, que não gosta de negro, de mulher, que é um cara grosso, arrogante", diz Eduardo Torres (PL), irmão da primeira-dama e candidato a deputado distrital em Brasília.

"Ela consegue desconstruir tudo. Principalmente quando estão juntos numa tribuna, a gente vê o quanto ele [Bolsonaro] fica balançado e o quanto ele se mostra um cara mais sensível, chorão. Ora ou outra ela tem feito o presidente chorar nos discursos", afirma Torres.

O irmão de Michelle diz que, habitualmente, Bolsonaro não é de demonstrar a mesma sensibilidade de quando está ao lado da mulher. "Dentro de casa, quem tem a oportunidade de acompanhar, vê que não é aquilo. O perfil do Jair é aquele perfil imbatível, mas é assim justamente por conta de tantos ataques que sofre, por defender com tanta energia aquilo em que ele acredita e defende. Mas o fato de ser enérgico não faz dele esse cara que a imprensa tacha", destaca.

"E aí, a Michelle vem para desconstruir tudo isso e mostrar o que temos visto isso, dizendo como ele é dentro de casa, o tanto que é um pai babão, que chora por conta dos filhos, principalmente da Laura, quando não tem tempo para estar junto, de participar mais efetivamente das atividades com ela", complementa Torres.

A campanha de Bolsonaro se planeja para que Michelle participe de gravações de peças publicitárias que serão exibidas durante a propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio.

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Eduardo Torres afirma que ela está interessada em colaborar. O comitê da campanha de Bolsonaro convidou Michelle a participar de gravações no período da pré-campanha, mas ela não compareceu por motivos de incompatibilidade de agenda, diz Torres. "E até por motivos de saúde ela também acabou tendo que desmarcar de última hora, mas não foi por falta de interesse, nem proposital. Ela até ficou bastante sem graça por essas situações adversas porque desmarcou mais de uma vez."

Que avaliação a campanha faz sobre Michelle Bolsonaro

A avaliação feita pela campanha de Bolsonaro é positiva sobre a atuação de Michelle na campanha. Para coordenadores eleitorais, ela tem demonstrado muita desenvoltura e mesmo seus discursos mais "duros" são elogiados – a exemplo da fala no comício de abertura oficial da campanha, em Juiz de Fora (MG), no dia 16 de agosto. Ela fez diversas menções sobre Deus e pediu "sabedoria e discernimento" aos brasileiros para que a população "não entregue" o país e a "nação tão amada por Deus na mão dos nossos inimigos".

Em culto realizado no dia 22 liderado pela pastora Camila Barros, em Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal, Michelle voltou a fazer um discurso semelhante. Desta vez, associou a possibilidade de não reeleição de Bolsonaro à chegada ao poder de regimes autoritários de esquerda, uma estratégia semelhante à adotada pelo marido para criticar Lula.

"Orem para aqueles que estão sendo enganados. Os olhos espirituais, ouvidos espirituais, nós estamos vendo o que o comunismo está fazendo nos países, perseguindo igrejas, queimando igrejas católicas, vão perseguir os cristãos do Brasil", disse.

No mesmo dia, Michelle participou do lançamento da candidatura da ex-ministra Damares Alves e fez acenos às mulheres. "Vou orar a Deus para que aquela cadeira do Senado seja ocupada por uma mulher de valores e de princípios. Brasília merece uma representante digna", disse.

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Coordenadores eleitorais de Bolsonaro acreditam que mesmo os discursos mais críticos de Michelle ajudam o projeto de reeleição. Eles tomam por base a progressão do índice de intenção de votos do presidente entre as mulheres captado por diferentes pesquisas eleitorais, como a BTG-FSB. O levantamento divulgado no dia 22 de agosto, mostra Bolsonaro com 29% dos votos entre as mulheres – o maior índice registrado desde o início da pesquisa, em março.

A pesquisa Genial/Quaest realizada entre os dias 11 e 14 de agosto, por sua vez, mostrou Bolsonaro com 30% dos votos entre o eleitorado feminino, também o maior resultado desde março. No mesmo período, a rejeição do presidente entre as mulheres atingiu a taxa de 43%, a menor captada no período, enquanto o índice de aprovação atingiu 27%, o maior registrado.

O levantamento da Genial/Quaest também aponta que o índice de intenção de votos de Bolsonaro entre evangélicos atingiu 52%, o patamar mais elevado desde março. Seu índice de rejeição dentro do segmento religioso, por sua vez, ficou em 25%, o menor registrado. Já a taxa de aprovação a seu governo foi de 46%, a maior observada.

Eduardo Torres, irmão da primeira-dama, acredita que ela tem ajudado a desequilibrar a disputa eleitoral a favor da reeleição. "Com esse toque diferenciado que ela tem, mais leve, mais humanizado, eu acho que isso tem sido muito bom para a campanha do presidente", diz Torres.

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"Todos sabem da importância dela. Acho que ela que não sabia do tamanho da importância que tinha. A campanha está começando a entender e descobrir isso agora, principalmente o Flávio [Bolsonaro, um dos coordenadores da campanha]. O alinhamento entre eles tem sido, hoje, muito bom porque ambos todos entendem que é importante a participação dela e que ela tem que estar junto do presidente", acrescenta.

Ex-intérprete de libras de Bolsonaro em seus pronunciamentos e candidato à Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal, Fabiano Guimarães (Republicanos) vê como natural a importância dada pela campanha a Michelle. "É mais uma confirmação de que as mulheres têm papel preponderante em sua plataforma e em políticas voltadas a elas. Bolsonaro sempre defendeu os direitos das mulheres e a segurança individual delas", diz. A primeira-dama foi a principal incentivadores para Bolsonaro ter um intérprete de libras, a linguagem de sinais para deficientes auditivos, em seus pronunciamentos.

Qual foi a agenda da primeira-dama até agora

Desde o dia 16 de agosto, início oficial da campanha eleitoral, Michelle cumpriu três agendas públicas ao lado do marido. A primeira delas foi no comício da abertura da campanha de Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG). Ela também foi a uma cerimônia na Academia Miltar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), no dia 20, e na solenidade de chegada do coração de Dom Pedro I, na terça-feira passada (23).

Ao longo da campanha, existe a previsão de Michelle cumprir outras agendas públicas com Bolsonaro. A participação dela nas ruas, como costuma fazer o presidente, porém, não é garantida. Por uma questão de logística e segurança, é provável que ela esteja junto dele em eventos com mais infraestrutura, a exemplo de sua presença no lançamento da campanha ao Senado da ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no dia 22.

Nas ocasiões em que a primeira-dama não estiver com o marido ou em outros eventos públicos, a expectativa é de que ela cumpra agendas mais reservadas, a exemplo do que ocorreu no dia 18, quando recebeu alunos da Escola Municipal Rui Barbosa em uma visita cívica ao Palácio da Alvorada. Também existe a perspectiva de uma reunião com empresárias em São Paulo. A organização do encontro está a cargo do grupo Esfera do Brasil, que organizou um almoço com empresários para Bolsonaro na terça-feira passada (23).

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Além do marido, Michelle também apoia outros candidatos

Além do próprio marido, Michelle Bolsonaro também vai apoiar a eleição de alguns candidatos. A expectativa é de que, ao impulsionar essas candidaturas, eles também ajudem a fazer votos pela reeleição do presidente. Para isso, ela vai usar seu perfil no Instagram para recomendar votos em aliados.

Fabiano Guimarães (Republicanos), ex-intérprete de libras de Bolsonaro, é um dos candidatos apoiados por ela. Ele destaca que seu apoio ao presidente é "irrestrito" e sempre foi declarado, mesmo antes de sua candidatura. "Nas eleições de 2018, eu já apoiava Bolsonaro e, hoje, sou ainda mais convicto de que precisamos reelegê-lo pelo bem do Brasil", diz.

"Em todas as agendas que tenho feito por todo o Distrito Federal, nas redes sociais e nas entrevistas concedidas ressalto, sempre, as políticas públicas realizadas na gestão do presidente Bolsonaro, destacando suas ações na área das pessoas com deficiência e pelos menos favorecidos, bem como a manutenção da estabilidade do país em meio a duas crises mundiais, e também a defesa da nossa liberdade e soberania", diz o ex-intérprete de libras de Bolsonaro.

Além de Fabiano, Michelle também apoia a candidatura da policial rodoviária federal Silmara Miranda (Republicanos), ex-dançarina do grupo musical É o Tchan, para a Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal.

Já em São Paulo, a primeira-dama apoia as candidaturas do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas ao governo e do ex-ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes ao Senado.

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Três candidaturas devem receber uma atenção especial: a de Damares ao Senado pelo Distrito Federal, a da jornalista Amália Barros (PL) para a Câmara dos Deputados pelo Mato Grosso, e a de Eduardo Torres para a Câmara do Distrito Federal. Para esses, ela se comprometeu a gravar vídeos, afirma o irmão da primeira-dama, que atua para converter votos de indecisos para Bolsonaro.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

A pesquisa BTG/FSB foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, que ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 19 e 21 de agosto de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00244/2022.

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 11 e 14 de agosto de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no TSE sob o protocolo BR-01167/2022.