Lula e Alckmin pretendem oficializar candidaturas na segunda quinzena de março| Foto: Ricardo Stuckert/PT
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O impasse entre o PT e o PSB sobre a criação de uma federação com outros partidos de esquerda tem refletido na viabilização da composição da chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido). Lideranças dos dois partidos admitem que as negociações sobre a federação esfriaram nos últimos dias e um acordo não deve ser definido nas próximas semanas.

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Sem partido desde o final do ano passado, quando deixou o PSDB, Alckmin esperava que o acordo sobre a federação fosse fechado até março, quando pretendia sacramentar sua filiação no PSB. Contudo, aliados do ex-governador já sinalizam que ele pode optar por se filiar a outras legendas como Partido Verde (PV) e Solidariedade.

Nesta semana, durante um jantar com ex-presidente Lula em São Paulo, o ex-governador Márcio França (PSB), pré-candidato ao governo de São Paulo, reconheceu as dificuldades para a viabilização da federação. "A federação tem outros problemas que são mais difíceis de resolver. Seria mais para frente", admitiu França depois do encontro.

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Nos cálculos, aliados de Alckmin avaliam que, caso ele se filie ao PSB e o acordo sobre a federação com o PT seja inviabilizado totalmente, sua indicação como vice na chapa de Lula poderia ser rejeitada pelo partido durante as convenções partidárias. Com isso, o ex-tucano não estaria se sentindo seguro em fechar sua filiação. Apesar disso, Márcio França afirma que o apoio do PSB à eleição de Lula está garantido até agora.

Partido Verde criou movimento "Vem, Geraldo"

Como alternativa, Alckmin se reuniu na semana passada com a cúpula do PV no intuito de construir um acordo com a legenda. Desde então, integrantes do partido têm compartilhado imagens com a mensagem "Vem, Geraldo".

"O partido tem o posicionamento de fazer uma pressão maior [pela filiação do Alckmin], mas acho que a gente deve deixar o governador decidir sem esse nível de pressão. Ele ainda não se decidiu", afirma o presidente nacional do PV, José Penna.

Alckmin tem ainda o convite do Solidariedade, sigla comandada pelo deputado federal Paulinho da Força (SP). Aliados do ex-governador, no entanto, afirmam que essa possibilidade é remota. A expectativa, agora, é que uma definição ocorra após o Carnaval, pois Lula e Alckmin pretendem anunciar a chapa na segunda quinzena de março, se antecipando ao fim da janela para troca partidária, que se encerra em 2 de abril.

Mesmo sem PSB, PT deve se federar com outros partidos

Paralelamente, o PT mantém conversas sobre se federar com outros partidos como o PV e o PCdoB. Um encontro entre as lideranças destes partidos deve ocorrer na próxima semana, em Brasília, para uma nova rodada de negociações.

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"Estamos trabalhando para que o PSB permaneça no grupo. Mas independentemente disso, vamos continuar a tratativas com os demais partidos envolvidos", explica José Penna.

Um dos principais entraves para que o PSB esteja na federação diz respeito ao regimento que vem sendo construído pelo grupo de partidos. De um lado, petistas defendem que a legenda tenha mais espaço na composição, por se tratar do maior partido do grupo. Por outro lado, integrantes do PSB defendem um reequilíbrio de forças para o regimento.

Na assembleia-geral, que corresponde aos dirigentes que estarão no comando decisório depois de formada a federação, o PT ficaria com 27 das 50 cadeiras do órgão. Enquanto isso, 15 devem ser do PSB. PCdoB e PV ficariam cada um com outras quatro cadeiras.

De acordo com Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, a composição tira a autonomia dos demais partidos. "Nada obstante o quórum ser qualificado de dois terços [para tomar decisões], obviamente que quem tem 27 tem mais condições de chegar a dois terços do que quem tem 15, que é o que nos competirá se entrarmos na federação", afirmou Siqueira ao jornal Folha de S. Paulo.

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Palanques estaduais também são entraves para federação entre PT e PSB

Em outra frente, a construção de candidaturas aos governos estaduais tem sido outro empecilho para a federação entre o PT e o PSB. Em Pernambuco, um acordo entre os dois partidos foi sacramentado e o senador Humberto Costa (PT) retirou a sua candidatura ao governo do estado em favor de um nome a ser indicado pelo governador Paulo Câmara (PSB).

Contudo, líderes dos dois partidos avaliam que atualmente o principal obstáculo ocorre no Espírito Santo, onde o PT indicou o nome do senador Fabiano Contarato para concorrer ao Executivo estadual. O atual governador, Renato Casagrande, é do PSB e pretende disputar a reeleição.

A movimentação do PT no estado capixaba foi vista nos bastidores como uma retaliação ao encontro entre Casagrande e Sergio Moro, pré-candidato ao Podemos, há cerca de duas semanas. O governador é um dos principais críticos da possível federação com o PT e já sinalizou que o apoio ao ex-presidente Lula poderia atrapalhar sua reeleição no estado.

No Rio Grande do Sul, a disputa se dá entre Edegar Pretto (PT) e Beto Albuquerque (PSB). Neste caso, no entanto, petistas admitem que a candidatura de Pretto poderia ser retirada para viabilização do acordo.

Existe ainda o impasse sobre São Paulo, onde o PSB tem a candidatura de França e o PT defende o nome de Fernando Haddad. Depois do encontro com Lula, França admitiu que o grupo terá uma única candidatura no estado. Mas, segundo ele, essa decisão só será tomada em maio, depois da realização de uma pesquisa de intenção de votos. De acordo com o levantamento Ipespe, divulgado neste mês, Haddad varia entre 20% e 33% das intenções de voto, dependendo do cenário. Já França vai de 12% a 31%.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

O levantamento Ipespe, encomendado pela XP Investimentos, ouviu 1 mil eleitores do estado de São Paulo entre os dias 14 e 16 de fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-03574/2022.