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Bolsonaro e lula
Os candidatos a presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: EFE/Joédson Alves; Sérgio Dutti/PSB

Entre os diversos temas que devem ser explorados no segundo turno da eleição presidencial, a economia deve se manter em destaque, em meio aos indicadores positivos que vêm sendo apresentados pelo governo nos últimos meses.

Ao longo da campanha eleitoral do primeiro turno, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) utilizaram números da economia tanto para atacar a gestão do adversário quanto para enaltecer realizações de seus respectivos governos.

Em setembro, na propaganda eleitoral para TV, a campanha do petista afirmou que “Bolsonaro está acabando com o Brasil”, citando números como o aumento do endividamento de famílias e a inflação ao longo dos últimos anos, e criticando a ausência de aumento real do salário mínimo no atual governo.

Bolsonaro, por sua vez, tem destacado em sua campanha a deflação apontada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos meses de julho (-0,68%) e agosto (-0,36%). O indicador foi puxado para baixo principalmente em razão da queda no valor de combustíveis, decorrente do corte de impostos promovido pelo governo sobre derivados de petróleo.

Categorias como educação, vestuário, despesas pessoais, alimentos e bebidas, artigos de residência e saúde e cuidados pessoais, por outro lado, apresentaram alta de preços nesses dois meses.

Em entrevista concedida no dia 2, logo após a definição de que a corrida presidencial será decidida no segundo turno, o presidente disse que a economia será um dos principais temas a ser explorado nessa nova etapa da campanha.

“A economia, nós estamos no terceiro mês com deflação. Notícias que nós temos é que os produtos de cesta básica abaixaram de preço, mas não estão no nível de pré-pandemia. Mostrar para eles [eleitores] isso que está acontecendo. O preço dos combustíveis, gasolina, etanol, está em baixa. Chegou o primeiro navio de óleo diesel da Rússia”, disse.

Na chamada prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, que se refere ao período de 16 de agosto a 15 de setembro, houve nova queda geral de preços (-0,37%), que incluiu, dessa vez, a categoria de alimentos e bebidas (-0,47%). Além disso, a redução de 5,8% no valor do diesel promovida pela Petrobras no dia 19 de setembro pode levar a uma retração de preços de uma ampla gama de itens por influenciar o custo do frete.

Divulgado na quinta-feira (6), o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentou queda de 1,22% nos dados referentes a setembro. Mais abrangente que o IPCA, o IGP-DI registra a variação de preços desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços ao consumidor final.

“Os preços de commodities e combustíveis continuam a orientar a desaceleração do IPA [Índice de Preços ao Produtor Amplo] e do IPC [Índice de Preços ao Consumidor]. Contudo, o IPA antecipa maior contração das pressões inflacionárias. O índice de difusão – que mede o percentual de produtos e serviços com elevação em seus preços – vem apresentando importante recuo”, explica André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV.

Ainda antes do segundo turno da eleição, no dia 25, o IBGE divulga a prévia da inflação para o mês de outubro. Caso voltem a apontar deflação, os números podem reforçar o discurso de Bolsonaro, que durante a campanha tem comparado os índices de variação de preços no mercado interno com os de outros países em que as taxas são superiores.

Novas sanções comerciais propostas por Estados Unidos e União Europeia à Rússia após a anexação de territórios ucranianos pelo governo de Vladimir Putin, no entanto, podem voltar a pressionar preços de commodities e elevar os preços de alimentos aos consumidores brasileiros, o que voltaria a desgastar a imagem do atual governo, favorecendo a candidatura de Lula.

Além disso, na quarta (5), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) decidiu cortar a produção em 2 milhões de barris diários para manter a cotação do produto, o que pode afetar os preços de derivados. Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), nesta segunda-feira (10) a gasolina tinha defasagem de 10% no mercado interno em relação à paridade de preço internacional, enquanto o diesel nacional estava 13% abaixo do preço de referência.

Para evitar aumentos e até anunciar novas reduções no preço da gasolina, o Planalto estaria atuando para substituir membros do alto escalão da Petrobras, segundo apurou o jornal "O Globo". Entre os nomes a serem trocados, estariam os diretores de Finanças e Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araújo Alves, e de Comercialização e Logística, Cláudio Mastella, que compõem o comitê responsável por decidir os movimentos de alta e queda no valor dos combustíveis.

Em outra frente, em busca de atrair o eleitorado de baixa renda, mais afetado pela alta de preços ao longo do ano, o governo anunciou, no dia seguinte ao resultado do primeiro turno, a antecipação dos pagamentos do Auxílio Brasil no mês de outubro. Conforme o novo calendário, o benefício será pago de 11 a 25 neste mês, cinco dias antes do segundo turno. Originalmente, os depósitos seriam feitos entre os dias 18 e 31 de outubro.

Na terça (4), Bolsonaro prometeu o pagamento de um 13º para as mulheres que recebem o Auxílio Brasil, a ser pago em 2023. E, na quinta (5), o presidente anunciou que a Caixa dará desconto de até 90% nas dívidas de clientes. Trata-se do relançamento de um programa iniciado em 2017.

O comportamento do mercado financeiro, refletido na queda do dólar e na alta do Ibovespa no primeiro pregão após o resultado do primeiro turno, também vem sendo utilizado por apoiadores de Bolsonaro como indicativo de que seu governo seria melhor para a economia do país.

As movimentações, no entanto, resultam também de um entendimento de que, com um segundo turno nas eleições, Lula tende a se movimentar mais para o centro no campo econômico. A adesão de economistas como Edmar Bacha, Pedro Malan, Armínio Fraga e Pérsio Arida à campanha do petista nos últimos dias sinalizariam uma confirmação dessa expectativa.

Nesta segunda (10), o boletim Focus, do Banco Central, apontou nova queda na projeção do mercado financeiro para o IPCA de 2022, que passou de 5,74% para 5,71%, representando a décima quinta semana consecutiva de revisão para baixo na previsão do indicador.

Até o dia 30, dois novos levantamentos Focus, do Banco Central, devem indicar o sentimento do mercado em relação ao futuro da economia do país. Outro dado que sairá dias antes do segundo turno é o da taxa de desemprego, que apresenta tendência de queda desde agosto de 2021, quando chegou ao pico de 14,9%.

O dado referente ao trimestre móvel encerrado em agosto de 2022 aponta índice de 8,9%. A próxima divulgação da pesquisa Pnad Contínua, que abrange os meses de julho, agosto e setembro, ocorre no dia 27 de outubro.

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