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Segurança em atos públicos de Bolsonaro e Lula serão revistos pelas campanhas| Foto: Ricardo Stuckert/PT; e Alan Santos/PR

A campanha eleitoral nem começou oficialmente e o risco de violência política já preocupa as campanhas presidenciais, resultado de um cenário de polarização nacional jamais visto desde a redemocratização do país. O assassinato de um dirigente do PT no último domingo (10, em Foz do Iguaçu (PR), acendeu o sinal de alerta e fez lembrar a facada sofrida pelo então candidato Jair Bolsonaro na eleição de 2018, que por pouco não foi morto.

Nesta segunda-feira (11), o núcleo de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu em São Paulo para mensurar possíveis riscos à segurança na disputa presidencial. Líderes de partidos que compõem a chapa do PT defenderam uma readequação das agendas de Lula e que os eventos de campanha ocorram com controle de acesso do público.

O modelo é o mesmo que foi adotado durante o evento de lançamento da pré-candidatura do ex-presidente em maio, quando os participantes tiveram que realizar um credenciamento prévio e passaram por revista com detectores de metal.

A campanha deve ainda formalizar um pedido de ajuda institucional a órgãos como Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ordem de Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Supremo Tribunal Federal (STF).

Integrante do núcleo de campanha do PT, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criminalize discursos de incitação ao ódio político. "A cada fala, a cada gesto de campanha nesse sentido, deve ser aplicada uma multa, tanto ao candidato quanto ao partido", disse.

A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), cobrou que a Justiça Eleitoral promova uma campanha de conscientização contra a violência política nas eleições. "Temos que combater essa prática de colocar o ódio como instrumento político", afirmou.

Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira argumentou que as eleições deste ano devem ser uma das mais violentas do país. Ele defendeu no encontro um reforço também na segurança de Geraldo Alckmin, indicado a vice na chapa de Lula.

"O nível de violência que poderemos assistir na campanha eleitoral deste ano pode ser sem precedente na história republicana brasileira", afirmou.

Campanha do PT reforça segurança de Lula com militância do partido

Além do episódio deste último final de semana, outros casos de violência já haviam despertado preocupação na campanha de Lula. Na semana passada, um artefato com explosivos e fezes foi detonado em ato de Lula no Rio de Janeiro. Antes disso, um evento com o petista foi alvo de um drone com "água de esgoto" em Uberlândia (MG), segundo a militância. Em ambos os casos, suspeitos foram presos.

No ato do Rio de Janeiro, Lula usou um colete à prova de balas. Além da polícia, seguranças privados contratados pela organização atuaram no local. Em eventos pelo país, a própria militância tem sido usada para fazer cordões de isolamento e dar uma "ajuda extra" nessa área. Na viagem de Lula ao Rio Grande do Sul, por exemplo, cerca de 150 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e 50 policiais voluntários, simpáticos ao PT, reforçavam a proteção do ex-presidente.

À época, a equipe da pré-campanha afirmou que havia identificado ameaças nas redes sociais, mas nada que configurasse um perigo concreto. Em 2018, quando já estava condenado em segunda instância na Lava Jato, Lula enfrentou protestos e até violência em municípios da Região Sul. Na ocasião, o ex-presidente foi alvo de manifestação e tumulto em Bagé (RS), teve sua caravana atingida por tiros em Quedas do Iguaçu (PR), e se viu alvo de pedras e ovos em Chapecó (SC) e Nova Erechim (SC).

Aliados de Bolsonaro também sinalizam preocupação com segurança

Assim como a campanha do PT, aliados de Jair Bolsonaro também sinalizam preocupação com a segurança do presidente. Em 2018, durante um ato de campanha, ele foi atingido por uma facada em Juiz de Fora (MG). O agressor foi preso e identificado como Adélio Bispo, um ex-filiado ao Psol que, segundo concluiu dois inquéritos da Polícia Federal, teria agido sozinho. Considerado inimputável pela Justiça, ele foi absolvido do crime, mas mantido em regime de prisão até hoje na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).

De lá para cá, os esquemas de segurança de Bolsonaro foram reforçados nas viagens pelo país. Em eventos abertos, ele usa colete à prova de balas. Ainda assim, integrantes do núcleo de campanha têm demonstrado preocupação com o presidente, sob a alegação de que ele costuma não seguir à risca as recomendações de sua segurança pessoal. No último final de semana, por exemplo, o presidente foi para o meio da multidão durante a 30ª edição da Marcha para Jesus, em São Paulo.

Inicialmente, o PL pretendia realizar a convenção de lançamento da campanha de reeleição de Bolsonaro em um ato em Brasília. Contudo, o núcleo de campanha pretende fazer um evento maior, no dia 24 de julho, no Rio de Janeiro. Com expectativa de receber centenas de apoiadores, a campanha pretende credenciar todos os convidados e reforçar o esquema de segurança no em torno do local escolhido.

Por ser presidente da República, Bolsonaro tem a segurança comandada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A pasta não divulga o número do efetivo que acompanha o presidente, mas confirmou que a equipe já vem sendo reforçada com a proximidade da campanha eleitoral.

Campanha de Bolsonaro rebate críticas do PT sobre incitação à violência

Lideranças do PT tentam culpabilizar o presidente Bolsonaro pela violência ocorrida em Foz do Iguaçu e em recentes eventos de campanha de Lula. O autor dos disparos que matou o tesoureiro do partido era eleitor declarado de Bolsonaro nas redes sociais e, segundo a viúva do dirigente, teria deixado claro a motivação ideológica ao atacar a tiros o marido.

Líderes do PL rebatem dizendo que é a campanha petista quem incentiva atos de violência. No último sábado (9), por exemplo, o ex-presidente Lula agradeceu ao ex-vereador Maninho do PT, que foi preso em 2018 por agredir um apoiador de Bolsonaro.

"Esse companheiro Maninho, por me defender, ficou preso sete meses, porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do Instituto [Lula]. Então, Maninho, eu quero agradecer, porque foi o Maninho e o filho dele que estiveram nessa luta", disse Lula.

Em 2018, Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT, e seu filho, foram presos sob a acusação de tentativa de homicídio qualificado contra o empresário Carlos Alberto Bettoni. Maninho empurrou o empresário, que bateu a cabeça em um caminhão que passava no local.

Nesta segunda, Bolsonaro afirmou ser contra atos de violência e afirmou não ter ligação com a morte do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu. "O que eu tenho a ver com esse episódio de Foz Iguaçu? Nada. Somos contra qualquer ato de violência. Eu já sofri um (ato) disso na pele. A gente espera que não aconteça, obviamente. Está polarizada a questão. Agora, o histórico de violência não é do meu lado. É do lado de lá", afirmou.

Polícia Federal antecipa esquema de segurança de presidenciáveis

Além da campanha de Lula, demais presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB) também vão contar com o apoio da Polícia Federal durante a campanha deste ano. Até o momento, Ciro conta com a segurança de agentes da Polícia Militar do Ceará, efetivo ao qual tem direito por ter sido governador do estado. Já a coordenação da pré-campanha do MDB informou que a senadora segue todos os protocolos para assegurar sua proteção pessoal.

Por conta do cenário de polarização, a Polícia Federal antecipou o esquema de segurança dos presidenciáveis neste ano. Serão pelo menos 400 agentes da PF vão zelar pela integridade física dos candidatos, todos eles com treinamento específico para a missão.

Para esta eleição, a PF vai fazer uma análise de perigo sobre cada campanha, avaliando os aspectos que envolvem cada presidenciável. A partir disso, a PF vai definir o tipo e o tamanho de equipe que será colocada para cada um, num nível de risco de 1 a 5. No caso da campanha de Lula, por exemplo, três delegados foram destacados para coordenar a segurança do petista.

A Polícia Federal recebeu nos últimos meses mais de 70 carros blindados que vão ser utilizados na segurança dos candidatos.  Ao todo, serão investidos R$ 57 milhões no projeto eleitoral deste ano. Do montante, cerca de R$ 25 milhões serão gastos com o custo operacional, como logística e diárias, e R$ 32 milhões na compra de equipamentos.

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