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Lula
Campanha de Lula está reavaliando a participação do petista em outros debates| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram nesta semana para reavaliar a participação do petista em debates e repensar estratégias da campanha voltadas para segmentos como os evangélicos. Paralelamente, o entorno de Lula pretende investir em propagandas eleitorais para tentar ampliar a rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL) junto ao eleitorado.

Um dos principais pontos discutidos pelos articuladores neste encontro foi sobre a participação de Lula nos próximos debates. O candidato petista esteve presente no debate promovido pela TV Band, o primeiro da campanha deste ano, mas a avaliação de parte dos aliados é de que Lula poderia ter se saído melhor. O ex-presidente teve, na visão de alguns deles, pouca desenvoltura para rebater acusações de Bolsonaro sobre temas como corrupção, além de não apresentar novas propostas para o eleitorado.

Outra ala da campanha, no entanto, avalia que, apesar de não ter rebatido Bolsonaro no debate, o petista se posicionou e deu a versão que o partido busca emplacar para o tema: a de que foi alvo de uma perseguição política. Para esse grupo, o petista não pode deixar Bolsonaro conduzir as narrativas da disputa presidencial, assim como ocorreu com o eleitorado evangélico.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse nesta semana que o partido está reavaliando a presença de Lula nos próximos debates. A expectativa é de que o petista participe apenas do último encontro antes do primeiro turno, que será promovido pela TV Globo, no dia 29 de setembro.

A campanha negocia ainda a possibilidade de antecipar o debate, pois a data marcada será o último dia de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Os marqueteiros do PT pretendem usar imagens no último programa de Lula.

"Vamos avaliar convite a convite, e também os convites para entrevistas. Não há problema nenhum em participar, obviamente que a gente quer discutir um pouco o formato. O formato desse debate é muito ruim, muito engessado", explicou Gleisi.

Apesar das divergências internas, publicamente a presidente do PT afirmou que o saldo do debate na Band foi positivo. "Avaliamos de forma positiva. O propósito era o presidente falar para o povo brasileiro, sobre os seus legados, sobre os seus feitos, sobre as propostas que nós temos. E ele conseguiu falar isso. Abordou vários temas, foi respeitoso, foi tranquilo", afirmou.

Apresentação de propostas para economia entra no foco da campanha de Lula 

Além de repensar a participação em debates, os conselheiros de Lula avaliam que o petista precisa focar seus discursos na apresentação de propostas, principalmente para a economia. Para eles, o ex-presidente deixou Bolsonaro conduzir as pautas da arena política dando foco para evangélicos e corrupção nas duas primeiras semanas da campanha.

Como forma de se contrapor ao presidente Bolsonaro, Lula vai ampliar a apresentação de propostas nos próximos dias. A expectativa é de que o candidato use entrevistas e eventos de campanha para detalhar as medidas.

Nesta quarta-feira (31), Lula aproveitou uma entrevista à Rádio Clube do Pará para apresentar o programa "Desenrola Brasil", que prevê um grande mutirão para renegociação de dívidas dos brasileiros. A cúpula do PT acredita que a medida tem o poder de atingir diretamente os eleitores que ganham até três salários mínimos.

"Esse é um compromisso nosso de que, se ganhar as eleições, nós vamos renegociar essa dívida do povo brasileiro, para que ele possa voltar a sorrir e ter o nome limpo no Serasa. Nós não queremos nenhum brasileiro, por mais pobre que seja, com o nome pendurado na Serasa porque o pobre é bom pagador. Ele não gosta de dever", disse o petista.

Além disso, a campanha petista detalhou qual será a proposta para o novo Bolsa Família, atualmente chamado de Auxílio Brasil. Além de garantir o valor de R$ 600, o ex-presidente afirmou que pretende pagar um adicional de R$ 150 para cada criança de até 6 anos das famílias beneficiadas pelo programa de transferência de renda. A estimativa é de que cerca de 9 milhões de crianças poderão receber esse valor. “Hoje não existe condicionante. O governo nem sabe para quem está dando esse dinheiro", disse Lula.

Os aliados do ex-presidente avaliam que, até o momento, a campanha de Bolsonaro não conseguiu o resultado que esperava com o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o mês de dezembro. A cúpula do PT comemorou, por exemplo, o crescimento das intenções de voto em Lula entre os beneficiários do programa, apontado pela última pesquisa do instituto FSB.

De acordo com o levantamento divulgado na segunda-feira (29), entre os que recebem o Auxílio Brasil, 58% indicaram voto em Lula, ante 24% de Bolsonaro. Na pesquisa anterior, de 22 de agosto, o petista tinha 52%, contra 31% do atual presidente.

A expectativa da campanha é de manter a estratégia de afirmar que Bolsonaro ampliou o benefício de forma "eleitoreira". "Eu posso dizer que nós vamos bancar R$ 600 de auxílio. E o Bolsonaro está mentindo outra vez. Ele acabou de mandar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o Congresso e nesse projeto não está a continuidade do Auxílio Emergencial. É importante lembrar que o presidente queria R$ 200, a oposição conseguiu R$ 600, ele reduziu para R$ 400, e agora que faltam 30 dias para as eleições, ele resolveu aumentar para 600 na expectativa de ganhar voto”, declarou o petista.

Campanha quer manter Lula "sereno" de olho no voto útil 

Apesar da avaliação entre petistas de que a disputa presidencial só será concluída no segundo turno, aliados defendem que Lula mantenha o tom "sereno" de olho no chamado voto útil. O grupo acredita que na reta final da disputa ele pode atrair votos de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).

Essa discussão chegou a ocorrer antes do debate da Band e tinha como foco principal os eleitores de Ciro. Antes do programa, a campanha chegou a avaliar qual deveria ser o posicionamento de Lula, caso o pedetista o confrontasse. De acordo com líderes petistas, o ex-presidente optou pelo aceno ao invés do ataque.

"Eu tenho um profundo respeito pelo Ciro Gomes. Sou grato ao Ciro Gomes que esteve no governo comigo de 2003 a 2006. Mas o Ciro nesse instante resolveu não estar conosco, sair com candidatura própria, é um direito dele", afirmou Lula no debate.

Em seguida, afirmou que, caso ganhe as eleições, irá "tentar ver" se atrai o PDT para seu governo e que trata Ciro com "deferência". Mas ironizou ao dizer que espera que Ciro "não vá para Paris" como fez no segundo turno de 2018, quando o pedetista decidiu viajar ao invés de declarar apoio a Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro.

A expectativa dos aliados do PT é de que o tom "moderado" pode levar Lula a crescer de dois a três pontos percentuais nas próximas semanas. Até o momento, os coordenadores do partido afirmam que não existe preocupação com a estagnação de Lula nas pesquisas eleitorais. Na pesquisa FSB, Lula registrou 43% das intenções de voto. O número representou uma variação de dois pontos percentuais, dentro da margem de erro, em relação ao levantamento anterior, quando o petista tinha somado 45%.

Aliados de Lula miram na rejeição de Bolsonaro

Em outra frente, a campanha de Lula pretende investir em peças publicitárias que reacendam na memória do eleitorado algumas crises do governo Bolsonaro, como na condução da pandemia da Covid-19. A estratégia surgiu depois que vídeos do presidente imitando pessoas com falta de ar voltaram a circular nas redes sociais. Bolsonaro chegou a ser questionado pelas imitações durante a sua participação na sabatina do Jornal Nacional. 

Além disso, o comitê de Lula pretende explorar a demora do governo federal em comprar e disponibilizar à população vacinas contra a Covid-19. "O que explica um presidente brincar com uma doença que matou 682 mil pessoas e não foi capaz de derramar uma única lágrima?", questionou o petista no debate da Band.

Outro episódio que será explorado pela campanha petista será o embate de Bolsonaro com a jornalista Vera Magalhães. A expectativa do PT é ampliar a rejeição do atual presidente junto ao eleitorado feminino. De acordo com a pesquisa FSB, Lula tem 46% das intenções de voto entre as mulheres, ante 30% de Bolsonaro.

Aliados acreditam que Lula tem margem de tempo na propaganda eleitoral para mesclar propostas com as peças que amplifiquem a rejeição de Bolsonaro. A propaganda eleitoral do candidato do PT tem 3 minutos e 39 segundos por dia. Já o atual presidente dispõe de 2 minutos e 38 segundos de exposição.

As inserções na televisão (peças de publicidade mais curtas e avaliadas por estrategistas como mais efetivas do que a propaganda veiculada no horário eleitoral, por chegar ao eleitor no intervalo da programação das emissoras) também serão usadas dentro dessa estratégia. Lula tem 286 inserções de 30 segundos para 35 dias de campanha, contra 207 de Bolsonaro.

Lula marca encontro para falar com pastores evangélicos

Depois de idas e vindas na estratégia de tentar atrair parte do eleitorado evangélico, Lula marcou um encontro nesta quinta-feira (1º) com a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito para discutir formas de ampliar as intenções do chamado voto religioso. A entidade atua em 20 estados e conta com o suporte de 10 mil apoiadores, em especial nas periferias.

Além disso, o petista marcou para o dia 9 de setembro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, um encontro com pastores evangélicos. Reservadamente, parte do PT admite que a campanha errou na estratégia de tentar dialogar com o segmento e que agora existe apenas uma tentativa de mitigar as perdas. De acordo com a pesquisa FSB, nesse grupo religioso, Bolsonaro tem 58% das intenções de voto, enquanto Lula aparece com 29%.

A escolha pelo Rio de Janeiro ocorreu depois que a campanha de Lula identificou que os eleitores evangélicos do estado eram os mais críticos ao petista. "É preciso que a gente desmistifique essa crítica que pessoas de má-fé, mentirosas, tentando transformar a religião em partido político, andam falando pelo Rio de Janeiro. Então, tenho todo interesse de vir e fazer um grande debate com evangélicos, e discutir não religião, mas o Brasil”, disse Lula recentemente.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 26 e 28 de agosto de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08934/2022.

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