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Em dia de jogo do Brasil na Copa o giro na bilheteria do Cine Morgenau (um dos poucos do gênero pornográfico que ainda resiste em Curitiba) cai. Ontem, na vitória por 3 a 0 sobre Gana, pelas oitavas-de-final, a média diária de 15 pessoas no horário caiu para cinco no início jogo. Nem por isso o proprietário, Jorge de Souza, 77 anos, e o filho, Jorge Luiz de Souza, o Jorginho, 39, esquentaram a cabeça.

Na ante-sala do cinema – uma mistura de bilheteria, bomboniére e bar (cerveja a R$ 2) –, ambos se misturam aos clientes. Todos de olho na tevê de 14 polegadas que divide espaço na parede com quadros de mulheres seminuas e uma variedade eclética de cartazes que vai de épicos do faroeste a Rambo III, passando por Marilyn Moroe, Carlitos e O Gordo e o Magro.

Desde 1984, quando seu Jorge abandonou as fitas convencionais e optou por passar filmes cujos títulos o filho considera impróprios de serem divulgados no jornal, é assim que eles acompanham as Copas: com a narração de Galvão Bueno se misturando aos gemidos da sala de projeção. "Vi todos os jogos dessa Copa aqui", revela Jorginho, responsável pela bilheteria e manutenção da sala.

O cinema, hoje com 90 lugares, jamais fechou em dia de partida do Brasil. O preço é de R$ 5, com o espectador podendo assistir quantas vezes quiser às duas películas que se repetem das 10 às 21 horas. "Adotamos esse horário porque tem gente que prefere entrar e sair do cinema quando tem pouco movimento na rua", revela seu Jorge. Detalhe: com carteirinha de estudante, a entrada cai para R$ 4.

Quinze minutos antes do jogo, apenas Jorginho e o porteiro estavam na ante-sala. Assim que o juiz apitou, cinco rapazes saíram da sala de projeção e mais dois que acabaram de pagar ingresso vieram para a frente da tevê. "Dia de jogo é assim: o pessoal entra e sai. É só ouvir a comemoração que vem para cá", afirma Jorginho.

Sentado num dos dois sofás da ante-sala, um rapaz de cabelos oxigenados com uma lata de cerveja na mão comemora o primeiro gol. "Tá fácil, sem chances para eles", solta. De folga do serviço – trabalha como cobrador externo de uma loja –, o jovem de 18 anos diz ter preferido ver o jogo no cine.

"É a segunda vez que venho aqui. Geralmente vou num perto da Praça Tiradentes", revela ele, que diz ter namorada, a qual, evidentemente, não sabe das escapadelas para ver filmes adultos. "Se souber também não estou nem aí", diz, rindo.

Aos 23 minutos do primeiro tempo, ele vai embora – que a reportagem tenha acompanhado, ele ficou menos de cinco minutos na sala de projeção.

Dois minutos depois, chega outro rapaz. Bem vestido, com um corte de cabelo parecido com o de Kaká antes da Copa, o jovem usava roupas de marca – blusa da Ellus e tênis Adidas. Ao ouvir a comemoração do segundo gol, aos 45 minutos, ele sai da sala, vê o gol e vai embora.

No segundo tempo, apenas um dos que começaram vendo o jogo continua – segue na sala até o fim. Aos 14 minutos, chega um homem de sobretudo e óculos escuros. Dá uma carteirada e entra. "O que tem de autoridade que mostra a carteira para deixar de pagar ingresso...", conta Jorginho.

Logo em seguida chega seu Jorge com a esposa. Ele assistiu ao primeiro tempo em casa. Logo após o último gol do Brasil, aos 42 minutos, entram os dois últimos espectadores do horário do jogo. Um senhor baixinho, com a barba por fazer e uma marmita na mão, passa direto para a sala sala de projeção. Já o último, um travesti, não apenas senta para ver o jogo como ainda comenta com os outros. "Aqui é assim: todo mundo se conhece, todo mundo é amigo", revela seu Jorge.

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