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Em dias de semana normais, o trajeto do centro de Curitiba até o Boqueirão, bairro mais populoso de Curitiba, no final do expediente de trabalho, demora aproximadamente 35 minutos. Num dia "anormal", com o Brasil em campo pela Copa do Mundo, o tempo da pequena viagem encurtou quase pela metade.

Ruas desertas, tudo fechado, cara de feriado, o biarticulado deslizou tranqüilo até o sul da capital em 20 minutos. Afinal, na pátria de chuteiras, quem escolheria o exato momento em que a bola rolaria na Alemanha para andar de ônibus ou ficar pela rua?

O aposentado José Vicente, 68 anos, escolheu e não estava nem ligando para Ronaldo, Kaká, Parreira, torcida, churrasco etc. Subiu no coletivo na Praça Carlos Gomes, às 16 horas, absolutamente convicto. "Não gosto de futebol. Além disso, minha igreja (Deus é Amor) não permite", disse, sentado no fundo do carro, totalmente indiferente à realização da partida.

Por sua vez, o auditor de qualidade Rodrigo Pacheco, 22 anos, era o "passageiro da agonia", a ansiedade em verde-e-amarelo, as cores de sua camisa. O trabalho o liberou atrasado, e Rodrigo, ainda iniciando o deslocamento, já programava a chegada em casa, no Boqueirão.

"Vou descer do ônibus e já sair correndo, abrir a porta e ligar a televisão. Gosto de futebol e não quero perder", revelou.

Se correu rápido, o torcedor deve ter visto o Japão abrir o placar. Sem trânsito nenhum, quem desceu e ficou um pouco no ponto final pôde observar o gol de Tamada. José Maurício, pedreiro de 47 anos, que escolheu o terminal para acompanhar o jogo, viu e não gostou.

"O Brasil tem de melhorar caso queira conquistar o hexa".

Mas a decepção logo passou, Ronaldo empatou e fez a alegria do grupo vidrado na tevê oferecida por uma lanchonete.

Distribuídas por diversas televisões, muitas pessoas preferiram assistir ao jogo longe de casa, como José Maurício, a perder parte das emoções em trânsito. Opção que Anderson Correia, 36 anos, não tinha. Azarado, o motorista de ônibus caiu na escala justamente durante o jogo e, no comecinho do segundo tempo, era hora de conduzir o vermelhão de volta à região central. "Fazer o quê. O transporte não pode parar, tenho de trabalhar. Deu para torcer um pouco no terminal, mas agora vamos embora", lamentou.

Menos mal, ele contava com a esposa Lucimar para ficar informado em tempo real sobre os lances principais. "Se sair gol ela me manda mensagem pelo celular", disse.

Porém, mesmo quem não dispunha de uma central de informações pessoal não teve problemas. O gol da virada, marcado por Juninho, veio através dos fogos de artifício, assim como o terceiro, anotado por Gilberto. Já no fim do percurso, cruzando a avenida Getúlio Vargas, a quarta e derradeira bola brasileira na rede, novamente de Ronaldo, foi anunciada pelos gritos da turma no bar da esquina.

"É ruim ficar de fora da festa, fico agoniada, mas o que importa é que vamos ganhar mais uma", apontou a diarista Jesus Oliveira da Silva, de 48 anos, rumando para um compromisso no centro.

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