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São Caetano do Sul – "Não temos o desejo de ficar na Primeira Divisão, temos o sonho. Desejo se tem por um carro novo, pela namorada... Já o sonho deve ser alcançado com o coração, com a alma."

A difícil vida do Coritiba nos últimos 30 dias vem sendo embalada pelas metáforas de Márcio Araújo. Com uma frase pronta sempre engatilhada, o técnico espera mobilizar o time que mais perdeu no segundo turno (12 vezes em 19 jogos). Vocabulário não falta.

"Estou dizendo para o grupo que precisamos ser ofensivos na alma. Passo como inspiração a eles justamente minha trajetória de vida. Também tive momentos complicados e os superei. Após vencer os problemas, nos tornamos pessoas melhores", diz.

"Às vésperas do jogo decisivo de hoje, às 16 horas, contra o São Caetano, no Anacleto Campanella, o treinador parece ter reforçado essa técnica – espécie de auto-ajuda (termo que ele rejeita). "Não entro por esse lado... Uso as palavras da sinceridade, autenticidade."

Márcio Araújo faz da oratória uma arma. Aos 45 anos, ele já tem pelo menos um feito no currículo: livrou o Paraná do rebaixamento em 1998. "Foi na última rodada, no último minuto. Uma lição, sem dúvida. Não se pode desistir nunca", recorda. À época, na base dessa psicologia verbal – assim como a aposta em jovens revelações da Vila – levantou uma equipe em descrédito.

O perfil motivador pesou muito na vinda desse paulista de São José do Rio Preto para o Alto da Glória. Teve o aval do ex-jogador e ídolo Capitão Hidalgo, após consulta do presidente Giovani Gionédis, ainda relutante com a hipótese. No raciocínio coxa-branca, seria alguém com "histórias para contar". Mais que isso: a pessoa certa para resgatar a auto-estima do grupo.

"Tinha até convites para trabalhar em outras equipes. Eram até melhores propostas financeiras. Mas pensei: quero ir para o Coritiba. Meu objetivo é esse. Não há um lugar melhor para mim neste momento", destaca.

O estilo de Araújo (com excesso de provérbios) tem o traço do pastor evangélico – papel que exerce sem alarde em São Paulo, onde reside. "Não gosto de misturar as coisas. A liberdade religiosa é um direito constitucional e deve ser respeitada. Prefiro ser um testemunho, mostrar minha opção pela atitude e não com palavras", garante.

E justamente o caminho da atitude que lhe fez indicar aos jogadores a sessão do premiado filme Coração Valente (EUA-1995), com Mel Gibson. Trata-se da história de um escocês com sede de vingança, após ter sua esposa morta por soldados ingleses bem na noite de núpcias. A revolta acabou se tornando uma violenta luta pela liberdade.

"Tudo era desfavorável para o povo oprimido. Tudo, tudo... A busca pela independência conseguiu sufocar uma gente sofrida, menos a felicidade. É um grande exemplo de superação e força", explica.

O homem encarregado de redimir um clube com 96 anos, campeão brasileiro em 1985 e 31 títulos estaduais, também sofre – outra faceta secreta de alguém que só fala em coisas positivas. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, confessou que não tem relaxado nestes dias. No máximo, passeio no shopping center. "É a minha válvula de escape."

Mas na retórica otimista do técnico, com clichês que conquistaram rapidamente os atletas, também há espaço para o plano B. Algo bem conformista – possivelmente guardado para situações indesejadas. "Se a árvore não deu frutos, valeu pelas flores. Caso não tenha brotado flores, valeu pela sombra. Se não rendeu ao menos a sombra, valeu pelo esforço da semente."

Márcio Araújo sabe: para seguir na elite nacional, superar o também desesperado São Caetano, não basta apenas o esforço.

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