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| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Não poderia haver momento mais precioso do que este para o jogo entre Brasil e Itália na Bahia. Parece que toda a energia que sacode o país, misturando a alegria do futebol com o brado retumbante de seu povo nas ruas, desemboca hoje na Praça Castro Alves, de Salvador. Os restos mortais do imortal poeta dos escravos ali estão, ao lado da estátua imponente, de fronte erguida, de olhar para o infinito, como quem estivesse pregando uma "nova era". A escultura é obra de um artista italiano. O acaso não existe. As coisas convergem para um ponto quando o desejo, a necessidade e a verdade se misturam.

A partida em si vale pelo carisma de Balotelli e pelas travessuras de Neymar, nosso poeta da bola, que escreve e declama com os pés. Brancos, negros e pardos, essa miscigenação de gente simples que o futebol e a Bahia unem, estarão hoje no campo de jogo. Distantes, porém, da plateia no padrão Fifa. Não há mais espaço para os desdentados que víamos com frequência pelo Canal 100, o cine-jornal de Carlos Niemeyer. A nova Fonte Nova não é mais do povo. A Praça Castro Alves, essa sim.

Nessa volúpia toda de protestos, e que muitas vezes extrapola pela infiltração de imbecis que violentam a legitimidade dos apelos justos, gostaria que o grito de "basta!" se estendesse aos Maríns e seus afins. O momento é oportuno. Não sou contra o progresso, a modernidade e o conforto. Acho apenas que dá para tê-los sem obstar o acesso de gente humilde nos estádios brasileiros. No sambódromo, há camarotes e arquibancadas; no antigo Canecão havia mesas e populares. É possível, sim, conciliar sem elitizar. Afinal, como disse o jovem poeta abolicionista, no auge de seus 21 anos – idade de Neymar – "a praça (‘de esportes’ fica por minha conta) é do povo, como o céu é do condor".

Bloco de rua

A irreverência do torcedor carioca quinta-feira no Maracanã marcou mais do que os dez gols da Espanha. Aplaudiram até arremessos laterais a favor do Taiti. Se no campo foi um desfile espanhol como a Beija-Flor no sambódromo – com bateria de gols, tike-taka e total harmonia –, os taitianos, por outro lado, compartilharam com a plateia a diversão ingênua dos pequenos blocos de rua – Miguel Lemos, Santa Clara e outras. O público interagiu com alegria e descontração. Foi muito animado.

Até onde ele mete o nariz

Joseph Blatter, um bedel de Havelange no tempo em que o brasileiro presidia a Fifa, pensa que tem poderes para ordenar o mundo. Engana-se ao confundir a federação de futebol como se fosse uma embaixada dentro do país-sede. Chegou ao cúmulo de exigir que colocassem uma camada de insulfine nas janelas do ônibus da seleção brasileira, para impedir os torcedores de ver os atletas. Os próprios jogadores da seleção pediram à Fifa que retirasse o obstáculo. Nesse pequeno detalhe o cartola torceu o nariz... Retiraram.

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