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Liga Mundial de Vôlei, na Arena da Baixada, coloca Curitiba na seleta lista de cidades brasileiras aptas a receber o torneio internacional. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Liga Mundial de Vôlei, na Arena da Baixada, coloca Curitiba na seleta lista de cidades brasileiras aptas a receber o torneio internacional.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Curitiba entrou definitivamente no hall do vôlei mundial: tornou-se a 21ª cidade do planeta a abrigar uma final de Liga Mundial. Privilégio que grandes centros como Milão, Roterdã, Moscou, Belgrado Cracóvia, Osaka já ostentaram. Foi a quarta cidade brasileira a receber a disputa de um título, depois de Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.

A capital paranaense ainda inovou, sendo a primeira ao colocar os jogadores em um estádio de futebol, a Arena da Baixada, para jogarem pelo título. Se o percurso de escolha da anfitriã da etapa final da Liga costuma ser burocrático e concorrido, para a decisão pender para a debutante Curitiba, o atalho foi fazer uma ação entre amigos.

Migrar o torneio dos ginásios para um estádio foi, sim, uma estratégia determinante na articulação para o retorno da competição para o Brasil – a última vez foi em 2015, no Rio de Janeiro, com a seleção ainda comandada por Bernardinho tragicamente eliminada na etapa de grupos, tendo a Sérvia como campeã. Mas o peso da Arena, contudo, foi menos por seus atributos arquitetônicos, como a tecnologia do seu teto retrátil. A decisão, de fato, foi fruto de relações pessoais mantidas pela alta cúpula do Atlético.

A amizade do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia, e do seu diretor executivo de Comunicação e Marketing, Mauro Holzmann, com o nome certo, no momento improvável trouxe a Liga Mundial para a capital paranaense. O nome é Ricardo Trade, um mineiro de 59 anos, que até o início de junho foi o CEO da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Mais conhecido nos bastidores do esporte como “Baka”, diminutivo do apelido “Bakalhau”, foi ele o responsável por gerenciar a candidatura de Curitiba em nome da confederação nas reuniões da Federação Internacional de Vôlei (FIVB).

A liberdade de Trade em contar com um estádio de futebol particular veio da aproximação com os dois cartolas rubro-negros há pelo menos três anos, quando a Arena ainda penava para ter sua reforma entregue dentro do prazo para os jogos da Copa do Mundo 2014. À época, Baka era o homem-forte da organização do Mundial, no posto de CEO do Comitê Organizador Local (COL). Petraglia era o presidente da CAP S/A.

Petraglia e Trade, então CEO do Comitê da Copa, durante evento em Florianópolis, em fevereiro de 2014.HUGO HARADA

Idas e vindas

Uma das principais tarefas de Trade era dar puxões de orelha pelos atrasos nas obras do estádio. Nas idas e vindas a Curitiba para fazer cumprir cronogramas, afinou contatos com Mario Celso e Holzmann. “Percebi a atenção deles em atender as demandas apontadas [a cada vistoria]. O que era prometido, era cumprido, mesmo com as dificuldades. Nos aproximamos, mas nunca tivemos nenhum outro negócio juntos”, conta o ex-CEO do COL e da CBV.

Procurado pela reportagem, Holzmann confirmou que ele e Petraglia se aproximaram de Trade graças às reformas na Arena, mas não contou mais detalhes sobre as relações amistosas dos três ou sobre a negociação para que o estádio hospedasse a Liga. Disse que as informações seriam passadas pela assessoria de imprensa do clube. A reportagem encaminhou as perguntas ao setor, mas não teve retorno.

Prova da afeição e afinação do trio foi a realização do jogo amistoso da seleção brasileira de vôlei em setembro de 2016: 33 mil pessoas pagaram para ver, na Arena, o time que recém havia conquistado o ouro olímpico enfrentar Portugal. Atlético e CBV precisaram de pouco mais de uma semana para acertar todos os detalhes. O estádio foi alugado à confederação, em valor não divulgado.

O sucesso do evento motivou um passo mais ousado: oferecer a casa do Furacão como sede da Liga Mundial. Baka conta que até cogitou o Maracanãzinho (RJ) como opção. Uma escolha natural: o ginásio foi o palco da final olímpica, depois de reformado para o megaevento. Mas já precisou de novos reparos e tem a capacidade limitada em 12 mil pessoas, abaixo das 28 mil acomodáveis na Arena.

Albari Rosa/gazeta do povo

Rateio

Para que efetivar o plano de a Arena receber a final da Liga, um acerto foi feito para que as instituições envolvidas – Atlético, CBV e FIVB – tivessem parte garantida do lucro da bilheteria. No rateio, o Atlético vai receber 30% da renda da bilheteria, a confederação de vôlei fica com 20% e a FIVB, com a maior fatia, 50%. Isso, depois que os custos de adaptação do estádio, estimados em R$ 4 milhões e bancados pela confederação, forem descontados.

Questionada pela reportagem sobre a divisão dos lucros, a CBV respondeu que não comenta sobre contratos; Trade confirmou o rateio da bilheteria, mas não quis falar sobre as porcentagens. O Atlético não retornou. Ao portal ESPN disse que não falaria sobre o acerto, pois há uma cláusula de confidencialidade.

O Furacão não cobrou aluguel pelos 18 dias que o Joaquim Américo foi transformado em um palco para o voleibol - foram utilizadas 800 toneladas de material para construir arquibancadas no gramado para aproximar o público da quadra, entre outras adaptações, como telas escuras de tecido no teto, para escurecer o ambiente e não prejudicar os jogadores.

Enquanto o Atlético concedeu a isenção do aluguel e a CBV garantiu o bancar os custos, a Federação Internacional isentou a confederação do pagamento de uma taxa obrigatória para competições. “A vantagem para o Atlético está em se mostrar para mais de cem países, que acompanham essa final”, destacou Baka.

Ele é um homem de boas relações também na outra ponta da negociação: comenta-se nos bastidores do vôlei que mantém boas conversas com o presidente da FIVB, Ary Graça Filho, ex-presidente da CBV, cargo que deixou em 2014 após denúncias de irregularidades em contratos de patrocínios. Curiosamente, o CEO foi contratado pela confederação no ano seguinte justamente para reorganizar a casa do vôlei brasileiro, bagunçada pelo escândalo na gestão de Graça Filho.

A escolha, na época, pareceu lógica: Trade estava no Ministério do Esporte, vinha do sucesso da organização da Copa do Mundo e, de quebra, conhecia os bastidores da modalidade: foi preparador físico e supervisor de vários times, auxiliar técnico da seleção feminina comandada por Inaldo Manta e integrou a comissão técnica da seleção masculina na Olimpíada de Seul (1988).

Apesar do protagonismo nas negociações para trazer a Liga Mundial a Curitiba, Baka não assistiu aos jogos na capital. Virou a página. Diz que não tem mais ligação com a CBV e está à procura de novas oportunidades no mercado, desmentindo a notícias de que iria assumir cargo na CBF para a Copa América no Brasil.

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