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Robinho disputa hoje a última partida pelo Santos (às 21h45, em Belém, contra o Paysandu). O esporte nacional perde com a saída do talentoso jogador de 21 anos. No mesmo instante, o país vê mais um capítulo da decadência de um dos símbolos do futebol brasileiro: a camisa 7.

O número carregado às costas pelo santista, outrora entregue a jogadores de grande poder ofensivo, hoje é utilizado por atletas com atributos de marcação. Volantes de habilidade duvidosa e até mesmo zagueiros – graças à moda do 3–5–2 – estão herdando o "manto" consagrado por pontas-direitas e atacantes.

A história passa necessariamente pelas pernas tortas de Garrincha. O Mané do Botafogo e da seleção brasileira foi sinônimo de improviso, de qualidade técnica e de alegria. Ponteiro, abria espaço pelo lado direito com dribles desconsertantes. O modelo perfeito. Seu número ganhou notoriedade e continuou fazendo sucesso com jogadores de posições diferentes, mas sempre com dom para o ataque.

Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970, deu uma contribuição importante nessa ascensão da "marca". Atacante nato, com grande precisão nos arremates e arrancadas mortais, fez gols em todas as partidas do tri. Conseguiu a proeza de ofuscar em parte a mágica de Pelé – e de sua incomparável camisa 10. Ao lado de Romário, o franzino atacante Bebeto aumentou a cotação da 7 em 1994. Fez gols, criou a comemoração nana-nenê e voltou campeão mundial depois de 24 anos de jejum do país da bola.

Aos poucos, o panorama foi mudando. Dentro do estado, Carlinhos Sabiá se destacou no Atlético em 1988, assim como o coritibano Lela no título brasileiro de 1985. Müller no São Paulo campeão interclubes de 1994 e Edmundo, no Palmeiras arrasador de 1996, são outros exemplos que solidificaram a boa imagem desse símbolo.

Mas a preocupação com a numeração e sua relação com o posicionamento em campo foram sendo abandonados. Nomes como Robinho e Roger (Corinthians) viraram exceção defendendo o legado de Garrincha e cia. Na rodada passada do Nacional, por exemplo, três volantes vestiram a 7 pelos times de Curitiba: Beto (Paraná), Alan Bahia (Atlético) e Silas (Coritiba).

Para o jornalista esportivo Juca Kfouri, da Rádio CBN e da TV Cultura, a situação é ainda mais lastimável. "A camisa 7 perdeu sua mística. O Robinho desempenhou esse papel de trazê-la de volta. Curiosamente, tendo características parecidas com as do Garrincha. A facilidade do drible, de fazer o estádio rir", comenta. "Mas isso vai acabar. Ele vai usar a 10 no Real Madrid. E no Brasil, vamos ficar esperando que surja um herdeiro", completa.

Na opinião de Juca, a simples ofensividade não é a real marca da 7. E sim, a molecagem. "O Roger joga com ela, mas não é um 7. O Felipe, do Fluminense, até poderia ser, se fosse aquele do Flamengo, jogando pela direita."

Já o ex-jogador Tostão, hoje comentarista esportivo, mostra menos empolgação com o simbolismo da vestimenta. "Número de camisa nunca definiu posição de jogador. Cada um tem característica diferente. Antigamente, até havia uma constância maior. Hoje, tem até zagueiro com a 7. Fica impossível comentar", diz.

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