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Em 1991, o curitibano Eduardo Bampi não escondia a fascinação que tinha por corridas off-road. Mesmo com apenas 14 anos, nas férias com a família em Pontal do Paraná, não havia dia em que o garoto não arranjasse um jeito de pegar o jipe do pai e ficar dirigindo pela praia. Mal sabia ele que essas pequenas travessuras, algum dia, seriam seu cartão de visitas para participar do rali mais famoso do mundo: o Dacar.

Neste sábado, Eduardo, com o dobro de idade (28), iniciará a grande aventura de sua vida – talvez a maior. O paranaense terá a missão de guiar um dos pilotos mais renomados do país nos cerca de 9 mil quilômetros de Portugal a Senegal. Entre desertos, montanhas e diversas outros desafios geográficos, ele será o navegador de Kléver Kolberg.

Com uma bússola (o GPS só será permitido num raio de três quilômetros de cada ponto de chegada), será de Bimpa a responsabilidade de fazer com que Kléver acelere sempre na direção certa. O objetivo, como em todo off-road de velocidade, é chegar aos lugares mais distantes por caminhos mais curtos e da forma mais rápida possível.

Curiosamente, esta será apenas a segunda vez que a parceira será testada. Uma história estranha que iniciou há 14 anos, justamente naquele verão na praia de Pontal do Paraná. Ali, de um encontro ocasional, surgiu com a amizade também a estréia, "extra-oficial", da dupla.

Bampi estava com o jipe, num dia chuvoso, quando viu alguém abanando os braços desesperadamente, num local pouco habitado – o garoto dirigia por lá exatamente por esse motivo. Quando foi ver o que era, encontrou Kléver Kolberg, com sua F-1000 totalmente atolada.

"Na época, depois do Dacar, ele ia para Pontal do Paraná descansar. Lembro que naquele dia ficamos até a noite para desatolar o carro", conta Bampi, que a partir dali, por todo o resto do verão, virou o "navegador" de Kléver. "Depois disso, todo dia ele passava lá em casa quando ia treinar e me levava junto", lembra.

A amizade parecia ter acabado com o retorno das aulas de Bampi, que voltou a Curitiba e só foi reencontrar o Kolberg 13 anos depois. Exatamente no Rali dos Sertões deste ano, quando fez parte da equipe de apoio da Mitsubishi.

Aliás, embora o navegador seja um aficcionado do off-road desde criança, só resolveu entrar de cabeça no esporte há três anos – depois de se formar em engenharia mecânica. E a trajetória foi meteórica. "Em 2003, o Schultz (Jean Felipe, piloto) decidiu correr velocidade e me chamou. Já na primeira prova, nós ganhamos", conta Eduardo que, com o amigo, nos dois primeiros anos foi vice da categoria light da Mitsubishi Cup. Em 2005 acabou em 3.º lugar no geral, atrás apenas de Edu Piano/Maurici Pitz e Guilherme Spinelli/ Marcelo Vívolo.

Foi por esse desempenho que recebeu o convite para participar da equipe de apoio nos Sertões e teve a oportunidade do novo contato com Kléver. "Lá, conversávamos o dia todo. Ele sempre queria saber qual era o plano pro dia seguinte. Hoje vejo que estava me testando. Logo depois me convidou para ser o navegador dele."

A euforia de Bampi é tanta que ele já leu as 70 páginas do regulamento do Dacar umas dez vezes. Mas as dicas "quentes" vieram do próprio Kléver. Quando o navegador avisou que iria começar a fazer musculação, o piloto cortou: "alongue as costas e o abdome, e só o que vai precisar".

E nesse quadro, uma das poucas palavras que não tem significado para o curitibano é medo. "Não tenho nada de medo. A segurança é muito grande, principalmente nos carros. Não dá mais para chamar de rali da morte."

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