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“Às vezes eu estou entrando no estádio e o torcedor vem com o filho pequeno e diz: ‘Olha, esse é o maior artilheiro do Atlético’. A criança não fala, mas deve pensar: ‘Esse velhinho?’. Os mais novos não conhecem.” Barcímio Sicupira, maior artilheiro da história do Atlético com 154 gols e comentarista de rádio | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
“Às vezes eu estou entrando no estádio e o torcedor vem com o filho pequeno e diz: ‘Olha, esse é o maior artilheiro do Atlético’. A criança não fala, mas deve pensar: ‘Esse velhinho?’. Os mais novos não conhecem.” Barcímio Sicupira, maior artilheiro da história do Atlético com 154 gols e comentarista de rádio| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Sicupira cansou de fazer gols na velha Baixada. Já do novo estádio, transformado em Arena em 1999, o ex-meia sabe pouco. Conhece basicamente o caminho do estacionamento até a cabine da Rádio Banda B, emissora AM em que trabalha como comentarista. "No gramado eu só pisei uma vez, na festa de 60 anos do Nílson Borges (ex-ponta-esquerda do clube). Nunca entrei no vestiário", recorda, referindo-se ao evento de 2001.

A história do maior artilheiro do Atlético, autor de 154 gols, parece ter ido embora juntamente com os antigos pinheiros que rodeavam o antigo Joaquim Américo. Os feitos do habilidoso e bigodudo camisa 8 ficaram gravados da memória da velha-guarda rubro-negra. Ou na admiração dos estudiosos. Quem viu, viu... Não há preservação. A relação do clube com um dos seus principais ídolos é meramente formal.

"Às vezes eu estou entrando no estádio e o torcedor vem com o filho pequeno e diz: ‘Olha, esse é o maior artilheiro do Atlético’. A criança não fala, mas deve pensar: ‘Esse velhinho?’. Os mais novos não conhecem", conta, durante quase uma hora e meia de conversa com a reportagem da Gazeta do Povo, no fim do ano passado, na sala vip da Arena. Sicupira cita Botafogo, Flamengo, Fluminense, São Paulo e Coritiba como exemplos de clubes que conseguem preservar a memória.

Mas o atual cronista esportivo não quer ficar preso a pecuinhas. Sem citar nomes, diz dar de ombros a quem tenta implantar a política do "pouco caso". "Estou na mídia, sempre vai ter alguém para lembrar de mim."

O papo de Sicupira é outro. Ele gosta mesmo é de falar de bola e contar bons causos. Lembra com saudade de momentos marcantes de sua passagem pelo Botafogo, saído do extinto Ferroviário, entre 1964 e 1966. Em General Severiano conviveu com craques do quilate de Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Zagallo (então com apenas um L) e Garrincha.

"O Mané (Garrincha) era um meninão. Adorava uma micagem. Como tinha muita força nas mãos, chegava perto da gente e apertava o nosso tendão do ombro. Só largava quando o cara caía da cadeira. E ria. Só via o povo correndo atrás dele com faca ou garfo na mão", relembra, engatando outra "sacanagem" do bicampeão mundial. "Eu fui contratado juntamente com um gaúcho chamado Bira. Só para tirar sarro, ele vinha perto da gente e falava: ‘com Bira e Sicupira o placar não gira’. Pura malandragem."

É esse aspecto do futebol, classificado por ele como romantismo, que o "craque da 8" mais sente falta no futebol moderno. "Antigamente nós éramos amigos dentro e fora do campo. Éramos compadres, as famílias se conheciam. Hoje o lateral-esquerdo está aqui, daqui a pouco já vai para a Bélgica, o outro vai jogar no Rio... Parece que virou obrigação. Vivemos muito a semana e pouco o domingo (dia do jogo)", afirma ele, relacionando a má campanha do Atlético no Brasileiro justamente à falta de "romantismo" do grupo. "Só melhorou depois que o Geninho chegou. Um time com tudo isso (olhando para as arquibancadas vazias da Arena) não pode mais repetir o campanha tão ruim. A torcida está desacostumada."

E assim segue o bate-papo com o ex-artilheiro sexagenário de cabelos grisalhos (completa 65 anos em maio), personagem apagado pelo novo Atlético, mas imortalizado no Museu do Futebol, dentro do Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Afinal, a frase "quem nasce Barcímio Sicupira nunca pega apelido", está lá, destacada em um dos setores do novo templo da bola, para todos os atleticanos lerem. E nunca mais esquecerem.

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