As duas faces de José Domingos

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Se o apresentador e comentarista esportivo José Domingos quisesse, poderia entrevistar, na hora que bem entendesse, o vice-presidente de futebol do Paraná, José Domingos. Bastaria levar suas duas facetas para o estúdio de rádio ou da televisão.

Mas, considerando o zelo dele em não misturar as coisas, a cena parece não ter como deixar o campo do inverossímil. "Procuro, quando apresentando um programa, ser o repórter ou comentarista que sou desde os meus 14 anos. É preciso separar bem. Sou imparcial no que falo dos outros clubes e procuro ser com o próprio Paraná", garante Domingos, hoje com 64 anos.

Segundo o cronista esportivo de longa data, e dirigente "por contingências da vida", como se auto define, essa é a única maneira de conciliar duas funções que, normalmente exercidas por pessoas diferentes, chegam a ser conflitantes. Afinal, não são poucas as vezes em que a veia jornalística, da busca incessante por informações, bate de frente com o necessário silêncio de um dirigente.

E o lado repórter? Será que em determinados momentos quer falar mais alto? "Claro. Até porque, como qualquer jornalista, sou cobrado por informações. Mas é questão de respeito com os demais profissionais da imprensa. Muitas vezes participei à noite da contratação de um jogador e no meu programa de rádio, que é um dos primeiros da manhã, digo que há uma negociação em andamento, que o Paraná pode fechar um reforço, mas nunca anunciei qualquer coisa antes da apresentação oficial", conta o apresentador do Comando da Manhã, programa levado ao ar das 5 às 8 horas na Rádio Colombo – até às 6h45 de temas gerais e a partir de então sobre esportes.

Mesmo assim, não há como escapar de situações inusitadas. Como na semana passada, quando parte das tratativas para permanência do técnico Pintado acabou acontecendo ao vivo na televisão, durante o Esporte Show de domingo, da Rede Mercosul. Se de um lado o treinador, como convidado, confirmou ter recebido uma boa proposta de um clube dos Emirados Árabes Unidos e insinuou que esperava um aumento de salário, do outro Domingos advertiu que, precavido, o clube já tinha possíveis substitutos engatilhados.

Mas elogios do patrão sensibilizaram Pintado. "Durante o programa fiz referências a ele em função de conhecer seu trabalho. Depois disso falou: ‘Então tenho de ficar’. Mas a conversa marcada para depois não deixou de acontecer e o Paraná foi obrigado a oferecer um salário maior para manter a comissão técnica", explicou.

Ele também já foi criticado por colegas de imprensa pela dupla função. "Já tive problemas sim. Como quando fui convidado a comentar um jogo para uma rádio. A audiência foi boa e companheiros de outras emissoras entenderam que não era certo. Acabei concordando. Agora posso até passar na cabine e dar uma palhinha, mas comentar diretamente não vou mais."

Com anos de rádio, jornal e tevê – inclusive tendo marcado época no jornalismo policial – José Domingos também já foi vereador de Curitiba e deputado estadual. Agora multimídia, depois da recente reativação do site josedomingos.com.br, o currículo pode ser completado com o cargo de presidente do Paraná, que estará em disputa no fim do ano. "Meu nome está aí, mas estamos em busca de um consenso para lançar o candidato da situação", revelou, sabendo que na presidência teria mais motivos do que nunca para pensar naquela entrevista consigo mesmo.