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 | Fotos: Priscila Forone/Gazeta do Povo
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Tricampeão do mundo, dono de medalhas de ouro e prata olímpicas, nove vezes campeão da Liga Mun­­­dial, há 18 anos atuando na seleção brasileira... Aos 33 anos, o londrinense Giba celebra vitórias conquistadas nas quadras de vôlei e na vida pessoal e diz que não está em clima de despedida do esporte.

Durante entrevista à Gazeta do Povo, afirmou apenas ter uma "mancha" em sua carreira im­­pecável: ver os 4 mil espectadores do jogo Brasil e Bulgária, no Mundial da Itália, dando as costas para a quadra.

Dividindo-se em atenção à família – brincar com o filho Patrick, 2 anos, e ajudar a filha Nicoll, 6, a amarrar os tênis –, respondeu não só às perguntas da reportagem, mas também de grandes nomes do vôlei e pessoas próximas a ele. A pequena Nicoll tomou posse do gravador e também participou. No bombardeio de interrogativas, indagou: "Pai, você gosta de jogar vôlei?". Não é difícil imaginar a resposta...

Emanuel, campeão olímpico de vôlei de praia em Atenas (2004), bronze em Pequim (2008), nove vezes campeão do Circuito Mundial.O que o Brasil tem a mais que os demais países para se manter no topo nesses dez anos de conquistas nas quadras?

Primeiro de tudo, fizemos uma família. Criamos uma mentalidade vencedora, que é o lema dos [três] mosqueteiros, o "um por todos e todos por um". Acho que esse é um segredo. É aquela coisa: entrar na partida e ver que o olho de todo mundo está brilhando igual; de saber que, se precisar entrar numa briga, todo mundo vai estar do seu lado e que, na hora de comemorar, vai todo mundo junto, com a mesma felicidade e com a mesma intensidade.

Pedrão, técnico de Giba no infanto-juvenil, no Círculo Militar do Paraná.Com base na sua história, qual o conselho que você dá para um jovem atleta que tem de decidir se investe nos estudos ou se investe na carreira de jogador de vôlei?

O vôlei é um esporte muito complexo, extremamente coletivo e intensamente individual. São muitas variáveis em jogo para um atleta ter sucesso. Então, a primeira coisa é manter-se estudando até ter um fato concreto que permita apostar na carreira nas quadras. Quem tem esse sonho tem de lutar com unhas e dentes o máximo possível, mesmo quando as coisas não parecem favoráveis. Eu, por exemplo, sou baixo para a minha profissão. Em 1993, fui cortado de uma peneira no time do [extinto] Banespa por causa da minha estatura. Então, fui buscar em outros fatores, fui trabalhar impulsão, velocidade, para compensar. Aos 16 anos, percebi que não era um atleta que se destacava logo de cara. Decidi que, se não fosse jogador no Brasil, ia tentar uma bolsa em uma faculdade nos Estados Unidos, onde o voleibol não é tão disputado como o basquete e o futebol americano. Eu queria jogar profissionalmente. Mas, se não desse certo, queria usar meu talento para ter um bom estudo. Decidi seguir a carreira naquele ano de 1993, em que fui dispensado na peneira do Banespa em fevereiro. Em abril fui convocado pela seleção e, em setembro, fui campeão mundial infanto-juvenil, eleito melhor jogador e melhor atacante. Aquele foi o momento- chave para minha decisão.

José Roberto Guimarães, técnico medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona (1992), com a seleção masculina, e em Pequim (2008), com a seleção feminina.Qual o jogo que mais marcou sua carreira?

Tiveram etapas que mais marcaram. Um dos jogos foi uma vitória por 3 a 2 contra a Itália. Foi meu primeiro jogo na seleção adulta, em que tive o prazer de participar do Cenntenial Cup [que comemorou os 100 anos do esporte], em Atlanta. A Itália, na época, era aquela famosa seleção que ganhava tudo. Fizemos um placar maravilhoso contra eles, o que não era esperado. Outro momento foi a Olimpíada de 2004, ganhamos o ouro e foi quando a Nicoll nasceu. A terceira etapa foi o Mundial de 2006, em que fui o maior pontuador. Mas nem foi por isso. Marcou pela dificuldade da disputa. Foi um campeonato muito difícil, em que tivemos a corda no pescoço o tempo inteiro, ficamos muito tempo longe de casa. Foi muito desgastante, mas nos consagramos bi­­campeões, que só não é melhor do que chegar ao tri.

Cristina Pirv, ex-jogadora de vôlei e esposa.Com base na sua experiência nas quadras, um líder nasce ou se cria?

O caráter de um líder já nasce com ele, vem de casa. Vejo isso nos meus filhos. Isso é nato. Mas, ao longo do tempo, o líder adquire experiência para saber melhor comandar.

Maurício, levantador campeão olímpico em Barcelona (1992).Como foi jogar este Mundial, sabendo que seria o último da sua carreira? Passa um filme?

Passa o tal do filme, sim. Antes de entrar em quadra, costumo juntar todos para, além da conversa no vestiário, falar alguma coisa que dê força. No jogo contra Cuba [na final, em 10/10], pensei nisso. Uma das frases que disse, com o mesmo nó na garganta de agora, foi: "Tenho orgulho de estar com vocês". E os momentos que me deram esse orgulho é que passam na cabeça. Disse ainda que vou incomodá-los mais um pouco, até depois dos Jogos [Olímpicos] de 2012.

Marlon, levantador, campeão mundial em 2010.Como você mantém seu espírito tão fortalecido para desfrutar de uma competição no banco de reservas com a mesma intensidade que teria se estivesse em quadra?

[pausa longa, pensativo] O vôlei, como falei, é minha paixão, o que faço com prazer, com aquele T bem grande mesmo. Também rezo bastante e tenho uma força imensa vinda da minha casa, da minha família. O fato de a Cristina ter jogado me ajuda bastante para estar o tempo todo focado. No fim, essa força vem desse conjunto e da vontade de estar na quadra, de fazer parte de um grupo que você sabe que vai dar resultado. De saber que as pessoas que fazem parte da equipe, tanto estafe quanto jogadores, sentem-se bem com minha presença. É por isso que brigo tanto por eles.

Solange Santamaria Paglia, mãe de Giba.O que você acha que sentiria se tivesse um filho ou filha com todo o sucesso que você teve? Multiplique esse sentimento por três, depois por dez e en­­tão por mil e você terá ideia da satisfação e orgulho que sinto de você...

Me sentiria orgulhoso. Não é fácil chegar aonde cheguei. Não tenho outra palavra para descrever o sentimento que eu teria de ver meus filhos defendendo seu país, fazendo o que eles gostam, até ganhar dinheiro com o que eles gostam, construir família.

Reportagem da Gazeta do Povo.O Mundial da Itália foi só a primeira de uma sucessão de despedidas em competições pela seleção, até os Jogos de Londres. Como não perder a motivação em meio a tantos adeus?

Não me sinto nessa contagem regressiva de deixar a seleção. Não estou acomodado. É como funciona com o grupo. São dez anos em que a gente está no topo. Se no segundo ano tivéssemos nos acomodado por ter o título mundial, já teríamos caído. Ainda mantenho um bom nível de jogo. Sei que, se precisar entrar em quadra, mantenho o ritmo dos demais companheiros do elenco. Estar com eles em quadra é o que não me deixa parar. Na minha cabeça, me preparo para como vou continuar em quadra, não no banco. Se eu estiver em boas condições físicas em 2012, porque não pensar em ir para a Polônia em 2014 [sede do próximo Mundial]. Acho difícil seguir até lá, mas é esse modo de trabalhar a mente. Entro agora em um campeonato importante, a Su­­perliga, pelo Pinheiros/Sky. O clu­­­­be fez um investimento muito grande, trouxe todo mundo de volta [repatriou vários atletas que estavam no exterior, inclusive o próprio Giba], inflacionando o mercado. A minha próxima meta é essa: a Superliga. Depois, vou ver o que fazer.

Reportagem da Gazeta do Povo.Você imaginava que o jogo contra a Bulgária [a derrota por 3 sets a 0, na fase classificatória, no qual Bruninho e Murilo fo­­ram poupados e o time jogou com o atacante Théo improvisado como levantador] teria mais repercussão até mesmo que a partida da final, contra Cuba?

Não sei. Não pensei nisso du­­rante a competição. A gente teve uma batalha de cada vez para chegar ao final da guerra. Aquilo foi uma batalha, em que todo mundo usou suas armas, dispensando, poupando jogadores. A Bulgária poupando o líbero, a Rússia tirando os seis titulares depois de ter ganho dois sets, a Sérvia fazendo a mesma coisa. A gente, com o problema do Marlon [o levantador ficou a maior parte da competição fora das partidas, por causa de uma colite], só com o Bruninho na função. Imagina se, em um jogo que, teoricamente, não valia na­­da, ele torce o pé, se machuca? Co­­mo seguiríamos? Quando acabou o jogo, declarei que seria uma mancha negra na minha carreira. Lógico que foi. Nenhum jogador gostaria de fazer parte de uma partida em que 4 mil pessoas dão as costas para a quadra. Acho que as pessoas interpretaram como quiseram e virou essa polêmica toda [de que o Brasil teria en­­tregado o jogo, como o líbero Mário Júnior confirmou, ao término do campeonato]. Mas ninguém gosta de ver a organização italiana e a Federação Internacional de Vôlei [FIVB] facilitando a vida da Itália e dificultando a de outras equipes que poderiam ficar como título.

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