O atleticano Antônio Marcos (de pé) e o argentino Germán: rivalidade e amizade que extrapolam as quatro linhas| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Quem disse que o duelo entre Athletico e Boca Juniors, pela Copa Libertadores 2019, não tem rivalidade?

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Ex-vizinhos no bairro Alto Boqueirão, em Curitiba, o brasileiro Antônio Marcos Serpa Nunes, 70 anos, e o argentino Germán Arnoldo Barrinuevo, 77, viverão um ‘clássico pessoal’ na noite da próxima terça-feira (2), às 21h30, na Arena da Baixada.

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Os aposentados, fanáticos por Furacão e Boca, respectivamente, se tornaram amigos a partir do momento em que passaram a morar em casas lado a lado, literalmente, em 2008. Mas a irmandade se estreitou mesmo quando ambos enfrentaram cânceres quase que simultaneamente, em um acaso da vida.

Hoje, já com as batalhas vencidas, os amigos vibram com um momento nunca antes imaginado, proporcionado por suas paixões no futebol. Como na época de vizinhos, planejam assistir ao jogo lado a lado no estádio atleticano. Com provocações, é claro.

“Vou dizer uma coisa pra vocês: o Boca tem mais tradição, tem mais títulos, tem mais torcida. Talvez nosso estádio seja um pouco melhor que o deles. Embora talvez até a técnica dos nossos jogadores não se compare com os do Boca, o Athletico se agiganta contra times grandes”, garante Antônio Marcos, que não perde a oportunidade de alfinetar.

“Eu, lá na Argentina, tenho uma simpatia pelo River Plate. Também tem vermelho, nas cores, como o Athletico”, dispara, causando riso geral durante a entrevista.

 
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Germán, que por aqui acabou virando Germano, no entanto, não cai fácil na armadilha. Em maio, o arquirrival do Boca decide a Recopa Sul-Americana em dois jogos contra o Furacão. E aí, como fica o coração?

“Vou torcer para o Athletico, claro. Torcer para o River, meu Deus?”, resmunga, ainda ressabiado com a derrota sofrida na final da última Libertadores.

Sentado em sua cadeira de rodas azul, o argentino se emociona ao falar da paixão pelo clube bostero, iniciada no dia em que conheceu os jogadores, na década de 1950. O encontro aconteceu quando o Boca passou por sua cidade, Bell Ville, na província argentina de Córdoba.

“A cidade inteira passou a torcer para o Boca naquele dia”, relembra, com inconfundível sotaque castellano.

No Brasil desde 1970, o ex-gerente de parque de diversões morou em diversas cidades, principalmente em São Paulo, como Rio Claro, Campinas e Presidente Prudente. Se encantou com o Santos de Pelé, a quem conheceu certa vez -- e faz questão de destacar que apertou a mão -- na Argentina, nos anos 60.

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Mas ver o Boca de perto novamente será inesquecível. Não faltarão lágrimas para quem já tem choro fácil.

“Nunca imaginei que poderia acontecer. Gostei muito do sorteio da Libertadores porque queria ver o Boca. Pode ser a última vez”, diz o argentino, que tem o lado direito do corpo paralisado em decorrência de um AVC sofrido em 2010, meses após descobrir um câncer de próstata.

Marcos, contabilista aposentado nascido em Chopinzinho, interior do Paraná, se aproximou muito de Germán na época da doença. Levava-o ao hospital e também era o parceiro de todas as horas no baralho, jogando truco, cacheta, canastra. Mas o prato principal sempre foi o bate-papo, que continua até hoje, mesmo agora com cada um morando em um extremo da capital paranaense.

“O Marcos só fala. E ele não te deixa falar. Gosta de contar histórias e falar do Athletico”, brinca Germán, que também virou a fortaleza do amigo, que encarou um câncer de intestino

“A força dele foi o Germán. E vice-versa”, ressaltam as esposas Cláudia Sampaio e Marli Serpa Nunes.

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Muito mais do que uma mera rivalidade, um exemplo de amizade e companheirismo entre Brasil e Argentina.

“Gostaria de deixar a mensagem que temos de acolher melhor os argentinos. Nada demais ir no jogo torcer, cada um para o seu time. Mas depois todos podemos nos abraçar como irmãos”, ensina Marcos, com o conhecimento de causa de quem ganhou um hermano para a vida.

Antônio Marcos e Germán ao lado das respectivas esposas, Marli Serpa Nunes e Cláudia Sampaio  

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