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Harumi de Freitas e Ethiene Franco treinam na cidade natal, Curitiba, com o apoio do Centro de Excelência de Ginástica: exceções à regra | Antonio Costa/ Gazeta do Povo
Harumi de Freitas e Ethiene Franco treinam na cidade natal, Curitiba, com o apoio do Centro de Excelência de Ginástica: exceções à regra| Foto: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

Entrevista

"Projeto é para 2020"

Evandro Rogério Roman, secretário estadual do Esporte.

O que deve ser feito para que os atletas do Paraná não precisem competir por outros estados?

Estamos discutindo na Assembleia a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, que vai dar o reforço das empresas privadas. A proposta é que o governo renuncie entre 0,1% a 0,3% do recolhimento do ICMS das empresas para projetos esportivos. Queremos também incentivar as prefeituras que criem suas próprias leis de incentivo. Outra solução financeira vem do orçamento da secretaria [valor ainda não aprovado], em que queremos investir na massificação do esporte.

São medidas a longo prazo. O estado não pensa na Olimpíada de 2016?

Exato. É um ledo engano achar que vamos criar algo agora para colher daqui a quatro anos. Projetos esportivos se plantam em uma década para colhermos na outra. A Angélica [Kvieczynski, ganhadora de quatro medalhas no Pan de Guadalajara], de Toledo, começou a treinar com seis anos. Aos 20 foi medalhista pan-americana. Assim, nosso foco é 2020. Mas não podemos perder tempo, viemos de 12 anos em que o esporte foi esquecido pelo estado. E não podemos perder a década do esporte, a chance de fazer legado com o Rio-2016. Não podemos errar. Temos de romper a barreira de que o esporte não é despesa, sim investimento.

A aposta do Ministério do Esporte é no crescimento do programa Cidades Olímpicas. É um modelo viável?

O esporte tem de ser para todos e variado. É interessante que as cidades queiram um centro de excelência em uma modalidade, que atraia bons atletas de fora. Porque quem quer fazer tudo, não consegue. Vamos fazer algo parecido com o atletismo. Estamos fechando um projeto de mini-atletismo em todas as escolas estaduais do Paraná. As crianças terão acesso à prática das diferentes disciplinas de atletismo. E pretendemos espalhar pelo estado 22 pistas de alta qualidade, a custo de R$ 1 milhão cada, em centros regionais para os atletas que se destacarem. E ter um centro de excelência da modalidade, com técnicos do mais alto nível.

Como será pago?

Dividiremos a conta em três partes: uma é do governo, outra da prefeitura interessada em ter um dos centros regionais e a terceira é de um deputado federal da região [por meio de emenda de bancada].

Há alguma cidade definida?

Ainda estamos estudando, mas certamente, uma cidade do interior que já tenha base, como Cascavel, Paranavaí e Campo Mourão.

Havia uma proposta de uma parceria com a Live Wright (patrocinadora da ginástica artística) para o ciclismo...

Ainda não está nada definido. O que temos de mais recente acertado é a reforma do ginásio da Cegin, em Curitiba. (AB)

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"Matéria-prima"

O primeiro treino do dia começa às 5h15, antes da escola. Depois dos estudos, são mais duas horas de natação, seguida das sessões de preparo físico, até as 17h30. A rotina de segunda a sexta é cumprida à risca pelas nadadoras do Clube Curitibano Nicole Ribas (foto) ,16 anos, e Manuella Andrade, 13. Elas têm um projeto ambicioso: participar da seleção olímpica, no Rio, em 2016. As duas estão entre os 220 jovens atletas que fazem parte do programa de bolsas Talento Olímpico do Paraná. Recebem mensalmente R$ 500. "É um incentivo para seguir melhorando meus tempos", diz Nicole, que nada os 200 m costas. Manuella compete no nado livre e conta que a verba não cobre os gastos. "Tenho também um patrocínio. E meus pais pagam parte das viagens e treinamentos". Os atletas de 11 a 18 anos são indicados por suas federações para receber a bolsa, com base nos seus resultados.

O Paraná sabe fazer atletas (é a quinta federação brasileira em representatividade na história olímpica), porém não consegue impedir a debandada de seus talentos quando ainda são apenas "promessas".

Na delegação nacional que já tem vaga assegurada para os Jogos de Londres, com início em 27 de julho, é visível o ciclo: primeiros passos na modalidade, destacar-se e deixar a terra natal. Dos representantes paranaenses garantidos na competição, 2/3 não treinam mais no estado de origem.

Dos até agora 152 desportistas do país classificados para o evento londrino, 15 do total são forjados no Paraná. Apenas cinco desses se preparam para o evento treinando em casa. Mas nesta conta, somente três defendem equipes locais.

As exceções são as ginastas curitibanas Ethiene Franco e Harumi de Freitas, que seguem se preparando na capital, no Centro de Excelência de Ginástica (Cegin); a zagueira Renata Costa, natural de Assaí, defendendo o Foz Cataratas.

Na relação dos contratados por ‘vizinhos’ – os forasteiros dentro de casa – figuram o ciclista Gregolry Panizo, de Tupassí, que mora em Maringá, mas defende a equipe de Pindamonhangaba (SP); e o nadador curitibano Henrique Rodrigues. Este voltou à capital no fim do ano passado, depois de nadar em Minas Gerais, São Paulo e Rio, porém compete pelo Fluminense.

A lógica é ir para o eixo. "Não dá para entender porque não conseguimos ter uma equipe local. A cidade tem bons ciclistas, das três vagas olímpicas do Brasil no ciclismo, duas são de maringaenses [a outra é praticamente certa para Rafael Andriato, que pedala pela equipe italiana Elia Favili], mas os times mais fortes estão em São Paulo", lamenta Panizo.

A causa mais apontada para o êxodo é a falta de verba. "Com­­parado a outros lugares, o Paraná investe pouco no esporte. Faltam projetos públicos, incentivos fiscais, participação de empresas privadas, competições de porte", diz a lutadora de tae kwon do Natália Falavigna, integrante do Time Rio, projeto da prefeitura carioca.

O alto custo de manutenção de uma equipe adulta competitiva faz com que os atletas deixem suas cidades muito cedo para competir onde lhe oferecem chance de seguir no esporte. "Saí de Marialva aos 15 anos para jogar em Paulínea (SP), onde os campeonatos são mais competitivos", lembra a central da seleção brasileira de handebol, May Fier, que hoje joga na França.

O mesmo ocorreu com Giba, que aos 16 anos começou a participar das peneiras nos times juvenis de São Paulo.

"A estrutura interna do estado tem de melhorar para segurar o atleta. Ter o envolvimento do poder público, um bom projeto esportivo para alavancar o patrocínio. Ter o atleta de alto rendimento perto da base incentiva os mais novos", sugere a ex-jogadora e diretora das seleções femininas da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Hortência.

O basquete é justamente a modalidade que mais terá atletas paranaenses nesta Olimpíada. Todas "exiladas": a pivô Fran, que deixou Jacarezinho aos 14 anos para jogar no interior paulista e hoje defende o Hondarribia (Espanha); a pivô Nádia (de Marialva) e a ala Palmira (de Reserva), ambas em agremiações paulistas.

Exceções à lista, ao lado de Harumi de Freitas, a ginasta Ethiene Franco diz ser privilegiada por estar em um centro de treinamento que considera o melhor do país sem precisar deixar a companhia da família. "Nunca tive vontade de sair daqui. Já recebi convite de times no Rio, mas tenho a melhor estrutura técnica e aparelhagem".

Falta ainda, porém, verba. Ela é treinada pelos ucranianos Oleg Ostapenko, sua esposa Nadijia e Irina Ilyaschenko, ex-técnicos da seleção brasileira, mas não tem nenhum patrocínio ou incentivo público. "Tenho apenas a ajuda de custo por estar na seleção e a bolsa de estudos da faculdade de educação física", reclama a atleta, que vai à sua segunda Olimpíada.

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