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Rodrigo Salvador dos Santos, frequentador assíduo do Alto da Glória, e Roberto Fadel, atleticano com saudades da força da Arena da Baixada: torcidas de Coritiba e Atlético estão empatas tecnicamente na capital paranaense | Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo e André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Rodrigo Salvador dos Santos, frequentador assíduo do Alto da Glória, e Roberto Fadel, atleticano com saudades da força da Arena da Baixada: torcidas de Coritiba e Atlético estão empatas tecnicamente na capital paranaense| Foto: Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo e André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Opinião

Atleticano por lucidez

José Carlos Fernandes, repórter e colunista da Gazeta do Povo

Se me perguntarem por que me tornei atleticano, direi: "Não sei". Talvez tenha sido culpa do Renato Sozzi, com quem fui assistir a um jogo no tempo das calças curtas. Mas como a brincadeira aqui é explicar as razões do meu afeto – lá vão elas.

O primeiro motivo é geográfico. Cresci na Água Verde e desde que me conheço por gente digo que moro "perto do Atlético". Um desafio era cortar caminho por dentro do campo para chegar à Praça Afonso Botelho. Segui o ritual até ser mordido por dois pastores alemães e me pelar de medo de ter "pegado raiva".

O segundo motivo é de ordem étnica. A Água Verde é um bairro italiano. Eu não era um deles – logo, era atleticano. Na escola, todos os loiros com sobrenome em "owsky" torciam para o Coxa. Eu não era branco o bastante – logo, era atleticano.

O terceiro motivo é estético. Vermelho e preto é uma combinação linda, bate com o Atlético – um time que acolhe todo mundo. Tentaram me convencer do contrário. Prefiro recorrer ao "estatuto do torcedor" e me licenciar para a paixão, que é cega. Quando ouço o hino choro e lembro ser um cara nem branco nem preto, nem italiano nem polonês, o tal do rosto na multidão. É um banho de lucidez.

O estado está louco!

Andrea Sorgenfrei, gerente do núcleo Estilo de Vida da Gazeta do Povo

Não, não e não! O povo paranaense está louco? Encarar a realidade de que a maior torcida do Paraná é de um time paulista, no interior, até vai, com a desculpa de que "não tem time pra assistir no estádio", mas em Curitiba, não! Qual é? E não adianta vir com a história de que a maioria da população da capital hoje não é mais curitibana, que tem muito paulista, gaúcho... É preciso fazer algo urgente.

Proponho uma campanha: vamos levar os filhos desta turma para o estádio e mostrar que aqui tem time, sim! Ah, não vai dar para os atleticanos. Estão sem estádio. Mas, tudo bem, deixa com a gente que a experiência no Couto é maravilhosa. Posso garantir que a estratégia dá certo e que colheremos bons resultados.

Outro dia levei para ver um jogo no Couto o filho de uma amiga aqui do jornal. Foi a primeira vez do garoto. No começo ele ficou um pouco encabulado, mas não demorou em arriscar alguns refrãos deliciosos que somente no estádio ganham ar de melodia. Brigou com o juiz, gritou gol (claro, esse é o meu time!) e saiu agarrado na bandeira arriscando algumas críticas, fazendo comentários e planos para o próximo jogo.

Paraná, alternativa simpática à bipolaridade

Cristiano Castilho, editor-assistente de Vida e Cidadania

Ele é um piá de 23 anos que tem a cabeça de um cinquentão vivido. Torcer para o Paraná é uma alternativa simpática contra a eterna bipolaridade que teima em marcar o futebol ao sul de São Jerônimo da Serra – já que, ao norte, não tem jeito mesmo, somos a 5ª comarca desportiva de São Paulo.

Musical, o Paraná carrega nas veias e na camisa a história da Vila Tássi, berço do samba de Curitiba, casa do Colorado. Também só o Tricolor da Vila (quer apelido mais legal que esse?) consegue um feito extraordinário, antes limitado a garotas de biquíni e a São Marcos: criar simpatia instantaneamente. Mesmo com seus rivais locais, o Tricolor, Tricolão, Tricolaço! mantém uma relação amistosa e nobre fora dos campos. Entre os torcedores, volta e meia se ouve por aí: "O Paraná é muito simpático." Também ouvimos que cabemos todos numa Kombi, é verdade. Mas o mundo, afinal, é para poucos e bons.

Tem mais: o Tricolor foge da cartilha que diz que, para que um clube seja grande, imponente, é preciso criar desafetos e ter um arquirrival. O time faz sua história sendo carismático e acolhedor. Caso você ainda esteja em dúvida sobre o que é ser torcedor do Paraná, peça o inenarrável pão com bife da Vila.

Um empate amargo. Assim pode ser definido o Atletiba pela disputa de maior torcida de Curitiba. O levantamento da Paraná Pesquisas ouviu 15.034 pessoas maiores de 16 anos para determinar qual time tem mais fãs na capital. O Atlético venceu, com 22,55%, contra 21,54% do Coritiba. Com a margem de erro de um ponto porcentual, a disputa está tecnicamente empatada.

INFOGRÁFICO: Veja a distribuição das torcidas pelas regiões da capital

A comparação com a pesquisa de 2008, realizada pelo mesmo instituto, revela que a igualdade é resultado da combinação entre a diminuição da torcida do Atlético e um leve crescimento do número de coxas-brancas – há quatro anos, o placar era 24,6% a 21,3% pró Furacão.

A queda atleticana é vista como natural por Murilo Hidalgo, diretor da Paraná Pesquisas. Reflexo do arrefecimento do efeito causado pelo crescimento do clube na virada do século. "Acabou a euforia da Arena, do título brasileiro e do vice da Libertadores", constata Hidalgo, que vê a reinauguração da Baixada como o vetor de um novo crescimento dos rubro-negros.

Integrante da geração Are­na, o profissional de comércio exterior Roberto Fadel, de 22 anos, reforça a relação entre volume de torcida e o fechamento do estádio para as reformas da Copa. "O Atlético tem, hoje, uma torcida muito jovem graças à Arena. Sem a Baixada não é Atlético", diz ele, que mora no Prado Velho, a poucas quadras do Caldeirão.

Do lado coxa-branca, a aproximação do rival é atribuída às boas campanhas de 2010 para cá. "Tri estadual, duas finais de Copa do Brasil. Isso fez com que o time se tornasse novamente referência. Mas é um crescimento que só se sustenta com o fortalecimento da estrutura, que é o que vai nos permitir brigar com os times de fora", analisa o presidente Vilson Ribeiro de Andrade.

Um fortalecimento capaz de levar a títulos que façam o torcedor sonhar em extrapolar as fronteiras. "Os clubes têm de buscar um título de Copa do Brasil e estar sempre na Libertadores para ter uma torcida nacional", diz o analista de sistemas Rodrigo Salvador dos Santos, de 27 anos, presença assídua no Couto Pereira.

Antes de sonhar em conquistar o país, a dupla Atletiba precisa defender seu quintal. Nos últimos quatro anos, a torcida do trio de ferro caiu 7% em Curitiba, enquanto a dos 12 maiores clubes do país cresceu 18%.

Mesmo com a liderança na região metropolitana – Atlético 17,89%, Coritiba 15,83% –, os rivais já começam a sentir o avanço dos forasteiros. Se os rubro-negros vencem em 11 cidades da RMC e os coxas em cinco, o Corinthians é o preferido em quatro municípios. No Litoral a divisão é maior: Antonina e Morretes são do Atlético; Matinhos, Guaratuba e Pontal do Paraná do Corinthians; Paranaguá do Flamengo.

Pior só mesmo o cenário do interior: o Atlético tem a oitava torcida, com 1,55%, logo à frente do Coritiba, com 1,30%. "É um cenário que vamos levar algumas gerações para mudar", disse o diretor de marketing do Atlético, Mau­­ro Holzmann, em junho, às vésperas da decisão da Libertadores, vencida pelo Corinthians – número 1 do interior com 20,32%.

ParanáSem títulos, Tricolor vê torcida migrar de jovens para aposentados

O mais novo integrante do trio de ferro é mais popular entre aposentados do que entre os jovens. Essa é a pitorisca composição da torcida do Paraná, a terceira maior da capital, empatada tecnicamente com a do Corinthians: 8% contra 6,37% – para Curitiba, a margem de erro é de um ponto porcentual.

A maior concentração de paranistas está entre torcedores acima de 60 anos. São 11,79% dos moradores de Curitiba, herança dos antepassados do Tricolor. Na parcela mais jovem, entre 16 e 24 anos, a presença do Paraná cai para 5,18%, deixando o clube atrás, inclusive, do Corinthians.

"A molecada quer saber de clube vencedor. Nos anos 90 o Paraná ganhava tudo e não tinha para ninguém", atesta o presidente do Paraná, Rubens Bohlen.

Que o diga a estudante Amanda Barbosa (foto), de 17 anos. Minoria na sua idade, ela sofre com as provocações de coxas e atleticanos. "Eles pegam no pé. O jeito é ficar quieta enquanto o time estiver mal. Quando melhorar, aí eles que vão ficar quietinhos", diz ela, que exibia, orgulhosa, os autógrafos do goleiro Marcos e do meia Lúcio Flávio na camisa.

Lúcio Flávio é uma das armas do Paraná para atrair mais jovens. O jogador será a peça central de um projeto social que o clube lançará em janeiro, para atender cerca de duas mil crianças e adolescentes nas suas quatro sedes.

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