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Integrante do projeto aborda transeuntes para vender alfajores | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Integrante do projeto aborda transeuntes para vender alfajores| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A abordagem é furtiva, mas o motivo é nobre. Do ano passado para cá, é raro caminhar na Rua XV de Novembro sem ser abordado por um vendedor de alfajor. Estrategicamente posicionados, eles até parecem ter saído de um desses treinamentos de vendas de grandes corporações. Mas, na verdade, são dependentes químicos em busca de reabilitação em uma clínica evangélica de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

“Temos de ser simpáticos e objetivos”, resumiu um deles ao explicar o modus operandi do grupo. O alfajor sai por R$ 2,70. Mas não é o preço que divide opiniões. A abordagem por vezes é considerada invasiva e assusta os mais desavisados. Mas para André*, a questão é de preconceito. “Acham que somos vagabundos. Mas só estamos atrás de dar a volta por cima.”

Vale da Bênção

O pastor Ives Marcio Viruel da Silva, responsável pela comunidade terapêutica Vale da Benção, é quem está por trás dos alfajores e também das técnicas de venda. “Eu que os instruo sobre a abordagem. Ela precisa ser objetiva porque senão perde o tempo da venda”, argumenta.

O vendedor fica com R$ 0,70 de cada alfajor comercializado. O dinheiro acumulado durante o dia, porém, é recolhido a cada cinco vendidos para evitar a chamada ‘tentação das ruas’. Em dias próximos a pagamentos, cada jovem chega a vender 100 alfajores.

A comunidade Vale da Bênção existe desde 2010, fundada por Silva depois de se recuperar da dependência química em outra casa. Segundo o pastor, os alfajores foram a única maneira de manter o atendimento a pessoas que não podiam pagar pelo tratamento. “Em média, o tratamento custa R$ 800 mês. E 80% da casa não paga”, afirma. A chácara mantém entre 25 e 30 dependentes em recuperação.

Segundo o pastor, o tratamento é dividido em três etapas: evangelização, tratamento psiquiátrico (minoria dos casos, segundo Silva) e ressocialização. Essa última etapa é divida em duas fases. Após quatro meses de tratamento, a pessoa pode sair da chácara sendo monitorada por um responsável do local. Na sequência, é autorizada uma visita mensal à família. O tratamento dura, no mínimo, nove meses.

Cura espiritual

A cura espiritual em clínicas de reabilitação divide opiniões. O governo federal, por exemplo, diminuiu sensivelmente o apoio a essas casas para fortalecer os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD).

Nesses equipamentos públicos, usuários não ficam internados. Eles até são acolhidos em período noturno, mas apenas em momentos de crise. A reabilitação nesses locais é baseada em acompanhamento clínico, reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer e exercício dos direitos civis.

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