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Aprendiz com salário de boleiro. Assim tem sido a vida de muitos dos garotos que entram em campo a partir de amanhã na tradicional Copa São Paulo de Juniores. São 88 clubes (5 paranaenses), os principais tendo atletas sub-20 com remuneração mensal de R$ 2 mil a R$ 10 mil.

Com medo de perder uma possível promessa, os dirigentes estão cada vez mais inflacionando o mercado teen da bola. Tudo, pregam eles, devido à Lei Pelé – que estabelece como base para a multa rescisória justamente o valor salarial pago, aliado ao tempo de contrato.

"É preciso uma mudança na legislação. Estamos forçados a selar vínculos longos e muitas vezes o novato não corresponde", diz o vice-presidente do Paraná, José Domingos. Como o futuro dentro de campo é incerto, a lamentação com os custos ganha ainda mais força. "Nós fazemos apostas, infelizmente", completa.

O sinal de alerta bate quase todos os dias. Há menos de um mês, por exemplo, o time da Vila foi recompensado pela cautela. Elevou os ganhos do lateral-esquerdo Eltinho e salvou algum retorno ao negociá-lo com o Yokohama, do Japão.

"Ele teve o contrato prorrogado por três anos, com aumento. Antes disso, certamente, estávamos correndo o risco de perdê-lo por pouco dinheiro", confessa Domingos.

De acordo com o advogado Domingos Moro, dedicado à área esportiva e ex-diretor do Coritiba, a questão chegou em um nível insustentável para as equipes. "Hoje é comum ver meninos de 16 anos recebendo mais de 10 salários mínimos", garante.

"Em um grupo de 20 jovens, muitos não vingam. E o saldo? Aqueles que não dão certo, chegam no profissional e – assegurado pelo contrato, mas sem mercado – acabam se encostando. O clube tem de agüentá-lo, pois a indenização, feita pelos próprios dirigentes com a idéia de salvaguardar os direitos da instituição, são agora elevados. O mico fica", atesta.

Quando trabalhou no Alto da Glória, Moro viveu de perto tal situação. Com o sucesso do time que chegou à semifinal da Copa SP de 2004, houve uma valorização natural do jovem elenco.

"Porém, nem a metade vingou. Criamos um teto salarial de R$ 2,8 mil. Neste momento, dois anos e meio depois, tem jogador dessa safra que ganha dez vezes mais. E encostado. Nem no banco fica. Um absurdo", lamenta.

Apenas como exemplo, o volante Márcio Egídio, um dos símbolos do fracasso na temporada 2006, fazia parte daquele grupo que recebia na faixa dos R$ 3 mil.

A lógica dos cartolas para aferir os valores é aparentemente simples: se for um meia habilidoso, atacante goleador ou zagueiro de 1,98 m paga-se mais.

"Hoje os pais têm participação nos contratos e isso atrapalha ainda mais. Quando o clube detém apenas 70% dos direitos federativos, acaba valorizando ainda mais essa parcela para eventualmente ser ressarcido a contento", reforça Moro.

Do outro lado da corda, os agentes e empresários tratam o tema com menos paixão. A Massa Sports, empresa que diz ter "oito ou nove" juniores do trio de ferro na lista de clientes, considera-se muito mais um parceiro das agremiações e atletas.

"Procuramos um denominador comum. Na hora de assinar o contrato, pelo menos nós fazemos isso, o garoto é apenas orientado para saber o que está acertando", explica Marcos Malaquias, um dos sócios da Massa. "Veja o caso do Rafinha. Ele se destacou, a diretoria fez a renovação, aumentou a multa rescisória e foi um negócio bom para os dois lados."

Nas contas de Malaquias, aos 16 anos "está bem pago R$ 2 mil por mês", afinal de contas "não adianta pagar muito porque estraga o menino."

O empresário se compara até ao personagem Jerry Maguire (papel interpretado por Tom Cruise, no filme Jerry Maguire – A Grande Virada, de 1996), um assessor preocupado com o lado humano dos atletas.

"Não participamos só da negociação. Cuidamos do dia a dia. Com isso, o futebol do nosso cliente cresce. Ele não se preocupa com imposto, conta de luz, papagaio, problemas de família...", alega.

Recentemente, a diretoria do Ceará anunciou a venda do atacante Éderson, 17 anos, para o Atlético. Segundo as referências trazidas pelo adolescente, em dois anos marcou 80 gols em jogos oficiais. Ou seja: está avaliado em 5 milhões de euros (R$ 14,2 mi) e assinou por cinco anos com o Furacão.

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