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Há cerca de um ano, em um Atlético e Paraná, na Arena, Naraiana Cardoso, de 16 anos, levou um tiro de borracha no olho disparado pela polícia, passou por várias cirurgias e, hoje, tem de usar uma lente de 11 graus para conseguir enxergar bem. Fanática por futebol, voltou aos estádios acompanhada pelo pai, mas só freqüenta partidas de um time só – que não tenha torcedor adversário.

Há cerca de 30 anos, M.J., ex-torcedor atleticano que prefere não se identificar, atualmente com 55 anos, apanhou da polícia em um Atletiba, simplesmente porque o policial militar achou que havia sido ele quem o alvejara com um saquinho de urina. O soldado olhou no meio da multidão e subiu pelas arquibancadas até, para surpresa do torcedor, acertá-lo com o cacete nas costas. Desde então, M.J. nunca mais freqüentou um estádio de futebol.

Dois exemplos separados pelo tempo, mas que comprovam outra constatação do estudo do Ministério do Esporte: a violência não parte apenas da torcida, mas também de policiais mal preparados.

"Até hoje, na maioria dos estádios, quem cuida da segurança ainda é o policiamento de batalhão de choque. É necessário criar uma polícia especializada. O soldado tem de entender, por exemplo, das frustrações que levam os torcedores a violência... Nos estádios, a polícia tem de ser preventiva e não repressiva", afirma Heloisa Reis, professora da Unicamp e especialista em violência nos estádios, assunto que pesquisa já há 11 anos.

Entre os erros na ação tradicional da polícia, estaria o pensamento de que, se houver enfrentamento, a saída é sempre bater. "Na Inglaterra, eles verificaram que grande parte dos torcedores iam ao estádio exatamente para esse confronto com a polícia. E mudaram radicalmente a atitude", complementa Marco Aurélio Klein.

De acordo com a Polícia Militar do Paraná, não existe um policial apenas para o futebol, mas em seu treinamento ele recebe instruções também para essa especificidade. "Infelizmente, a torcida não é qualificada. Mesmo que o torcedor fale que o problema ocorreu pela interferência da polícia. Nós só interferimos se existe um conflito na torcida", diz o major Dabul, responsável pelo planejamento da PM na capital.

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