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Rafael Cordeiro orienta um dos pupilos: Wanderlei Silva | Arquivo
Rafael Cordeiro orienta um dos pupilos: Wanderlei Silva| Foto: Arquivo

Filosofia

"Treino não é para playboy"

Para que um lutador de MMA tenha uma carreira bem sucedida não basta dominar as técnicas de combate e a preparação física. É nisso que acredita o técnico de artes marciais Rafael Cordeiro. Para o curitibano, esse é o grande diferencial da Kings MMA, sua escola em Huntington Beach, para as demais academias norte-americanas.

"Quando se tem um objetivo dentro da arte marcial, você precisa de um mestre que não passe só ensinamentos, mas a filosofia de vida", explica Cordeiro, três vezes campeão brasileiro de muay thai e vencedor do extinto IVC (International Vale-Tudo Championship) na categoria leve.

O histórico como lutador também conta pontos. Ao preparar um atleta para a "guerra", como o próprio define, é preciso fazê-lo sentir-se confiante e sereno ao mesmo tempo.

Atualmente, os norte-americanos Mark Muñoz, Tito Ortiz, Jason Miller, Jake Ellenberger e o polonês Krzysztof Soszynski fazem seus treinamentos na Kings MMA. Os brasileiros Wanderley Silva, Fabrício Werdum e Renato Babalu também. Ainda passaram por lá Anderson Silva e Maurício Shogun. Todos apostando no tripé formado pelas palavras profissionalismo, lealdade e resultado.

"Aqui não tem atleta com ego a mais ou a menos. Não é academia de playboy. Não temos tempo de passar a mão na cabeça de ninguém", fecha Cordeiro.

O curitibano Rafael Cordeiro, 38 anos, raramente ouve seu nome pronunciado corretamente em Huntington Beach, na Califórnia. Apesar da proximidade com o México – a fronteira fica a apenas 160 km de distância –, os norte-americanos penam para articular sem erros o sobrenome latino de um dos cinco melhores técnicos de MMA (artes marciais mistas) do mundo.

Parece uma reclamação tola, mas é o único senão que o mentor de lutadores como Wan­­derley Silva, Fabrício Werdum e Mark Muñoz tem na América do Norte. Pelo segundo ano consecutivo, o "professor" concorre ao prêmio do MMA Awards, o mais importante do esporte, na categoria treinador.

O resultado, que será divulgado no dia 30 de novembro, na verdade não é o mais importante no momento. O reconhecimento do trabalho feito na academia Kings MMA já está de bom tamanho para quem quatro anos atrás trocou o trabalho confortável na academia Chute Boxe da Praça do Japão pelo sonho de viver nos Estados Unidos.

"Estou com 200 alunos. São 180 estudantes e 20 profissionais, entre eles atletas do UFC e do Strikeforce", diz ele, que na semana passada inaugurou a nova sede da escola, no número 7.391 da Avenida Warner, a quatro quarteirões da praia banhada pelo Oceano Pacífico. "A outra começou a ficar pequena", emenda.

Não era pequena quando o faixa preta de jiu-jítsu e de muay thai desembarcou na cidade, em 2007. Eram apenas três alunos, incluindo sua mu­­lher Luciane e a filha Naomi, então com seis anos.

"Tive força, persisti bastante nisso, que sempre foi meu objetivo. E hoje sou o representante brasileiro, entre os técnicos, mais falado por aqui", garante Cordeiro.

A insistência, quase uma ob­­sessão, por morar na terra do UFC tem explicação simples. Se­­gundo o treinador, o mercado nor­­te-americano é aberto e convidativo ao MMA à brasileira. A visibilidade conquistada no ex­­terior é de longe muito superior ao que o Brasil proporciona no es­­porte. Além disso, a busca por patrocínios é menos desgastante.

Mas a vontade de se estabilizar nos Estados Unidos não tem só a visão econômica como fundamento. No caso do ex-treinador da Chute Boxe, foi algo planejado há uma década.

"Penso nisso desde que vim com o Wanderley Silva e com o mestre Rudimar Fedrigo para o UFC 20, no Alabama [em 1999]. Vim com a mala pronta para ficar, ia dar aula na Califórnia. Mas as coisas não estavam organizadas do jeito que eu pensava. Então, acabei voltando", relembra ele, orgulhoso por levar a técnica do muay thai curitibano para a terra das oportunidades.

"Não sou rico, mas vou ficar. Essa é a boa notícia", termina Cordeiro – com o carregado sotaque curitibano.

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