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A chegada de Lotthar Matthäus ao Atlético obrigará jogadores, dirigentes e torcedores do clube a vivenciar uma situação muito comum nas histórias de heróis em quadrinhos: a dupla identidade. Porém, ao contrário do que acontece na fantasia, em que o Homem-Aranha é na verdade o fotógrafo e físico Peter Parker, ou Batman trata-se do industrial Bruce Wayne, o superpoderoso do Rubro-Negro não terá de se esconder num alter-ego. A outra face do alemão será conhecida, terá vida própria, andará o tempo inteiro ao lado dele e, principalmente, de suas habilidades especiais também dependerá o sucesso do Furacão na temporada 2006.

Tudo em decorrência da experiência incomun de trazer um técnico estrangeiro para trabalhar no Brasil. E apesar de o Atlético procurar somente um intérprete para assumir a condição de dupla identidade de Matthäus – e não uma mistura de auxiliar-técnico e tradutor –, é certo que no desenvolvimento da complicada tarefa o selecionado terá de se transformar no próprio alemão em alguns momentos, mesmo que teatralmente.

"Queremos alguém que siga à risca o que ele vai dizer. Entretanto, a pessoa terá de demonstrar a mesma energia no elogio, na cobrança, etc.", explicou Alexandre Rocha Loures, assessor de relações internacionais do clube.

"Conheço a vida do Matthäus inteira. Sei quando ele casou, descasou, estou por dentro de tudo. Não terei problema nenhum em assumir essa posição", revelou Agnaldo dos Santos, um dos candidatos a intérprete do novo técnico atleticano.

Além dele, um ex-policial paulista de 40 anos que jogou bola na juventude, atualmente morando em Hamburgo, na Alemanha, apareceram cerca de 50 outros interessados em ser a identidade brasileira de Matthäus, através de currículos enviados ao clube ou consultas telefônicas. Gente de todo o tipo, com e sem experiência no futebol, homens, mulheres, jovens e idosos.

O primeiro nome a surgir foi o de Paulo Rink, convidado por Matthäus quando da definição do contrato. Após ter sido ídolo do Furacão na metade dos anos 90, Rink mudou-se para a Alemanha, fez carreira no Bayern Leverkusen, naturalizou-se alemão e atuou pela seleção do país. Ou seja, é dono de um currículo talhado para assumir o cargo. Porém segue desfrutando da calmaria do futebol do Chipre, onde atua pelo Omonia Nicosia e é artilheiro do campeonato, com 15 gols.

"Ninguém do Atlético me procurou, a não ser o Lotthar na época. Mas pelo jeito eles querem mais um tradutor, e isso outras pessoas podem fazer", declarou o jogador, que, caso fosse chamado, gostaria de vir como atleta e, ao mesmo tempo, ajudaria na parte técnica. "Como jogador estaria amanhã aí. Já para ser apenas auxiliar eu teria de conversar com o meu clube", completou.

Se não "nasceu" para a função igual Paulo Rink, o alemão Peter Dieckmann tem se esforçado para ser o aprovado. "Fiz um dicionário com 230 termos do futebol traduzidos do português para o alemão, inglês e espanhol, especialmente para o Matthäus", disse o senhor de 60 anos, dono de uma empresa de eventos em Joinville (SC).

Peter morou 17 anos em Curitiba, período em que aprendeu a gostar do Atlético. No futebol, foi presidente de uma liga amadora na Venezuela. Dois fatores que, sem contar o fato de ser alemão, ele acredita serem muito positivos. "Conheço o ambiente, tenho experiência, sou plenamente capaz de assumir essa responsabilidade", disse.

Os candidatos devem ter ótima fluência nos idiomas português e alemão e conhecimento do ambiente esportivo. Uma pré-seleção já foi feita, e caberá ao ex-camisa 10 a opinião final. O vestibular para "Mateus" deve levar alguns dias para ter o resultado divulgado, pois diretoria e o novo comandante da equipe ainda não sentaram para conversar sobre o assunto, o que acontecerá a partir de amanhã, quando o técnico será apresentado.

"É uma decisão muito importante. Mas o Matthäus está ciente da responsabilidade do projeto, e também se comprometeu a aprender o idioma", declarou Rocha Loures.

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