Quando os coritibanos elegeram Jair Cirino dos Santos para a presidência do clube, lembro-me de uma conversa com um dos eleitores do vencedor. Nome ilustre na vida do Alvi­verde, René Dotti foi o último votante e orgulhoso declarou seu voto para Cirino. E proclamou com entusiasmo juvenil: "meu voto foi o da vitória."

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Não que o conselheiro do Coritiba estivesse menosprezando os candidatos derrotados, mas buscando exaltar sua escolha pelas qualidades humanas de Cirino. Jurista e cultor da ética, o ilustre professor da vida e do Direito, ficou indignado pela baixaria que tomou conta da­­quele pleito, mesmo sem atingir a figura de Jair Cirino, que sempre contou com o apoio de outro expoente do Coritiba, Tico Fon­­toura. Estava eleito o presidente do primeiro centenário de existência da instituição do Alto da Glória.

Cirino não foi feliz na gestão do clube, rebaixado para a Série B e, ainda, tragicamente vilipendiado por marginais que fazem do futebol uma escola de vandalismo. Sem estar arrependido do seu voto – consciente e firme –, René Dotti foi a voz sobranceira que logo foi ouvida por um auditório integrado por uma multidão de atentos ouvintes inconformados com a mancha na vida centenária do Coritiba. Justo, o grupo que decidiu assumir o comando do Coxa-Branca não entrou para sacrificar Ciri­no e outros companheiros abatidos pelas curvas misteriosas da vida.

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Com a mesma convicção do mestre do Direito, Vilson Ribeiro de Andrade e seus companheiros, com toda dignidade, protegeram Jair Cirino dos arroubos dos precipitados. O exercício de postos de comando no futebol é conflituoso e ingrato.

Agora, o presidente eleito pelo último voto colocado nas urnas sai consagrado moralmente da presidência do Coritiba, antecipando sua despedida e abrindo espaço para a eleição – sem embaraços – de Vilson Andrade. Entre Vilson, Cirino e Dotti, um traço em comum: amor e respeito ao Coritiba em primeiro lugar. Uma lição de decência sem condicionantes. A história que o Alviverde viveu nesses tempos de dificuldades e lágrimas de tristeza, misturadas ao marejar dos olhos pelas renovadas alegrias e conquistas, engrandecem o esporte feito com lisura e espírito de doação.

Jair Cirino dos Santos foi mo­­ralmente grande para suportar os tropeços impostos pela vida de presidente e também por sa­­ber ser, com humildade que emociona, um figurante valioso para permitir a recuperação do Coritiba sem traumas e manifestações pessoais capazes de forjar constrangimentos.

Os homens são fortes e sábios quando se dispõem a sofrer em silêncio e sem ressentimentos, como fortes e sábios são os que expõem com coragem e amor a tenaz perseguição à justiça e às mais sofridas causas.

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