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Espero que você tenha notado que todas as equipes da Copa jogam em linha na defesa, adotam o que o saudoso João Saldanha malhava sob o pouco honroso título de "linha burra de quatro beques". Isto ao longo da década de 60 do século XX, o mais ignominioso da longa história do bicho homem, qualquer coisa como um milhão de anos.

– O que é a linha burra de quatro beques ou a linha burra simplesmente?

– Como responderia o luso com a sua nunca assaz louvada literalidade – é uma linha, pá! Reta, pá! Uma linha reta, pá!

Ao que devo acrescentar, mesmo a temer a redundância, a linha burra é burra porque é linha reta. Sacou?

– E por que a linha reta é uma linha burra quando adotada pela defesa?

– Pela simples e boa razão que ao ser batido em velocidade, ao ser vencido no arranque, ao ser driblado um dos componentes da linha burra, da linha reta, todos os outros componentes estão automaticamente batidos também. E aí é aquele "ai Jesus", aquele pânico, desespero. Sacou?

Claro, claro, se você tiver um goleiro bastante esperto, um goleiro que saiba jogar futebol além de defender as bolas com as mãos, se você tiver um goleiro assim, como eram os grandes goleiros da imbatível escola argentina de goleiros, com restrições muito sérias você pode adotar a linha burra associada à "tática do impedimento", a perigosa ação de deixar os avantes adversários impedidos, em "off-side", "fuera de juego", "hors jeu".

– Por que com restrições muito sérias?

– Porque o goleiro pode neutralizar os passes longos, em profundidade, que vão além da sua intermediária, mas não pode neutralizar os passes curtos&médios, lançados aquém da sua (dele, goleiro) intermediária. Sacou? Nessas hipóteses não há remédio para a linha burra! É tchau e bênção e correr pro abraço. Muito bem.

Ao registrar no caderninho o tresloucado gesto das seleções, especialmente das européias, acrescentei com meu natural otimismo: se ousarem vir em linha contra a amarelinha levarão homéricas goleadas. E comecei a prelibar: Ronaldinho enfia o esférico às costas da burra, Ronaldão bate o(s) beque(s) na corrida, dribla o keeper. E golo! Ou Kaká enfia o esférico às costas da burra, Adriano bate o(s) beque(s) na corrida, dribla o gajo guarda redes. Outro golo! Assim até enjoar. Ou se tocarem da asnática distribuição que levam ao ar imprudentemente.

Infelizmente, meu sonho durou até a estréia. A Croácia não veio de linha burra, veio com beque na sobra. Não são loucos. Nem trouxas. Que pena. Morreu Bussunda, "estou tristão/estou sofrendo..."

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