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Antes tarde que nunca. Ontem, "dia internacional do goleiro".

Que tempos, costumes. Não quero morrer antes da época em que comemoraremos "o dia internacional do quarto árbitro". Quando desagravaremos a bola? E o apito, cara-pálida? Instrumento de trabalho de sua senhoria? (Seremos castigados no dia do juízo por essas e outras? Ai de nós.)

Fui goleiro. Mau goleiro. Na adolescência, em Irati, onde enterrava o time do aspirante do América ao lado do Jorge Buso e do saudoso Batata, o mui querido Nagibe Maluf.

Estava em excelente companhia. No Brasil da época tínhamos apenas um goleiro, Castilho, meu ídolo Castilho, melhor goleiro do mundo de todos os tempos idos e por vir. Aleluia. Os outros goleiros das décadas de 50-60 eram cercadores de frangos, frangueiros. Da cabeça aos pés. Que horror! Um flagelo.

Fui péssimo produto dessa péssima época, de sucessivas safras sequer sofríveis de guarda redes. Fui goleiro do meu tempo como o fruto nunca cai longe do pé ou quem puxa aos seus não degenera. ÔoooooLE.

Nós passamos a ter bons goleiros depois da hora e vez do Tafarel, nos 90s. Hoje, sem exagero, é possível afirmar que não há sequer um goleiro ruim no Brasil da 1ª divisão.

É verdade que ainda temos um, não mais que um goleiro-jogador, pra lembrar a velha, sempre útil distinção argentina entre "arqueros atachadores e arqueros jugadores". Estou a me referir ao Ceni, mais que mero goleiro, mero "encaixador" de bolas; é jogador de futebol que não por acaso joga no gol.

(Lembre: normalmente, uma equipe é constituída de dez jogadores + o keeper... que não joga bola... que joga no gol...)

Onde o goleiro pisa não nasce grama? É verdade. A posição carrega essa inarredável maldição. Conseqüência de vício de origem: a liberdade de tocar a bola com as mãos - marca, cicatriz, pecado. Posso citar cena exemplar, pessoal?

Num final de tarde em Irati treinávamos titulares contra reservas. Modéstia a parte, no gol dos reservas o locutor que vos fala. Adiantado, além da marca do pênalti, à Costa Pereira, lendário luso. E eis que lá vem o imortal centro despretensioso sobre a entrada da grande área, onde estava, olímpico, solitário, absoluto, o sargento dos Bombeiros, Carioca.

Bonachão, gordote, sorriso franco. Ao invés de matar a bola no volumoso peito, decidiu atrasá-la de cabeça para esse que vos escreve. E colocou-a no ângulo alto, à esquerda, lá onde nem as corujas chegam – rede!

Antes que eu reclamasse, perguntou:

– Não estás atento, Negão?

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