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Hoje é dia de Atletiba, nosso maior jogo de futebol. Apenas isso bastaria para atrair multidões ao estádio. Entretanto, lamentavelmente, os novos tempos transformaram coisas ótimas em boas e coisas boas em ruins. Nem o Atletiba conseguiu escapar desses tempos tenebrosos, nos quais predomina a insegurança acima de tudo. Tanto que, diante da violência de vândalos travestidos em torcedores, as autoridades policiais decidiram pela realização do clássico com torcida única.

Na mitologia que criou a série em quadrinhos Sandman, o inglês Neil Gailman incluiu sete irmãos sobrenaturais, Sonho, Morte, Destino, Desejo, Desespero, Delírio e Destruição, chamados de "Perpétuos" por se diferenciarem de simples deuses. Para Gailman, deuses morrem quando morrem os povos que neles acreditam e morrem os que se lembram desses povos. Tradição e lembrança surgem, portanto, como imortalidade.

Essa desafiadora ideia, lida há alguns anos, me voltou à cabeça quando um amigo disse-me que temia pelo fim dos clássicos assistidos nos estádios, transformados, em nome da segurança pública, como meras atrações da televisão. De certa forma isso já está acontecendo.

Eles até poderão ficar menos coloridos nos estádios e mais valorizados como peças da grade de programação das redes televisivas, mas jamais deixarão de motivar o povo a vê-los ao vivo.

Lembrei-lhe de uma experiência quando assisti ao casamento da filha de um amigo meu, judeu. Para quem nunca assistiu a uma cerimônia judaica, basta, para integrar o propósito dessa coluna, dizer que ela é alegre onde a católica é séria, quase triste, e cantada onde a católica é falada – é muito bonita, enfim.

O rabino que celebrava o casamento na antiga Sinagoga Francisco Frischmann recordou aos noivos, a certa altura da cerimônia, que seus pais lhe haviam dado o maior dos presentes: "Um passado". E que, de posse desse passado, eles poderiam encarar sem medo o futuro: "Raízes e asas".

Os grandes clássicos do futebol sobrevivem graças à tradição, à intensa rivalidade entre os torcedores e toda a riqueza humana que os cercou no passado. Nada tira do Atletiba a força das raízes do passado e as asas do futuro.

Por isso, em qualquer circunstância, o jogo de hoje será disputado ardorosamente por todos os jogadores em campo, simplesmente porque escreverá mais um capítulo da extraordinária história do clássico imortal.

Quanto ao resultado, é imprevisível, como sempre, diante do equilíbrio de forças, como se verificou no empate do turno. Depois de quatro anos sem vencer na casa do adversário, o Atlético consegue apresentar uma equipe mais competitiva e com potencial ofensivo superior ao do Coritiba, mas nem isso garante a antecipação de qualquer prognóstico.

Vai depender da organização tática e do espírito de luta dos jogadores. Tudo pode acontecer em um Atletiba.

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