Repare se você já não viu esta cena. Em um restaurante, uma turma de quatro casais jantando. Os quatro homens estão numa ponta da mesa e as mulheres na outra, cada grupo absorvido pelos seus próprios assuntos.

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Ou em uma festa, as mulheres reunidas em um canto, os homens em outro, em rodinhas fechadas, em um clima de clube da Luluzinha e de clube do Bolinha.

Ou então nas praias, as mulheres sentadas em suas cadeirinhas, tecendo comentários pouco gentis sobre as nádegas cansadas de umas ou a quantidade de silicone nos seios de outras, e os respectivos maridos em pé, discutindo o mesmo tema, só que sendo mais generosos e compreensivos nas observações.

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Não tanto quanto antigamente, mas ainda esta em vigência aquilo que se entende como assunto de homem e assunto de mulher.

Esta tese é discutível, mas tem alguns ângulos que merecem consideração. Muitas mulheres, por exemplo, gostam de futebol, mas acham a maior perda de tempo discutir se o Roberto Carlos estava só arrumando os meiões no lance que tirou o Brasil da Copa.

Bem, aí está o ponto nuclear deste artigo: a torcida da Copa.

Existe a torcida do futebol cotidiano, essa que se descabela quando o time de coração perde ou sai fazendo barulho quando ele ganha, e a torcida, a imensa torcida, que só se manifesta na época de Copa do Mundo. E aí a mulherada entra com tudo, vestindo a camisa, organizando a festa, acompanhando o noticiário e discutindo a seleção, os jogos, os gols e a pasmaceira de Parreira.

Passada a euforia do Mundial, com vitória ou derrota da seleção, desfaz-se a imensa torcida brasileira que só calça as chuteiras quando o "orgulho da pátria está em jogo".

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Nem mesmo a Copa América consegue mobilizar a massa que adquiriu uma cultura de Copa do Mundo desde que o Brasil conquistou o primeiro título em 1958. O fato novo que existe é a empolgação da torcida dos clubes que decidem a Taça Libertadores da América. Este é um torneio que mexe com a galera e a torcida do São Paulo, por exemplo, lota o Morumbi em todos os jogos da Libertadores e comparece em número reduzido nas demais ocasiões.

Em países de pouca expressão futebolística, todo jogo de seleção nacional é um acontecimento. Por aqui, os brasileiros deram baixa nos amistosos e só se ligam quando a seleção joga pela Copa do Mundo.

Nos tempos da Copa Roca, da Copa O'Higgins ou da Copa Rio Branco – disputados, respectivamente, com Argentina, Chile e Uruguai – ainda saía faísca pelo rádio. Mas, hoje em dia, com a televisão escancarando as mazelas e as fraquezas dos jogadores, o torcedor tornou-se mais seletivo.