• Carregando...

Causou rebuliço nos meios esportivos paranaenses a declaração do procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Paulo Schmitt, durante os acalorados debates no caso da perda de mandos de jogos pelo Coritiba.

Tratando da pressão que vinha sofrendo por ser paranaense e residir em Curitiba, o advogado Paulo Schmitt referiu-se ao "complexo de vira-latas dos paranaenses no contexto futebolístico nacional".

Ele foi infeliz ao não citar o autor da frase, o que amenizaria o impacto causado.

De vez em quando alguns técnicos da seleção brasileira mostram-se firmemente empenhados em reavivar o nosso complexo de vira-latas, curado desde a vitória na Copa do Mundo de 1958.

Foi em maio daquele ano, antes, portanto, dos jogos na Suécia, que o escritor, teatrólogo e cronista esportivo Nélson Rodri­­gues apresentou aos seus leitores da revista Manchete Esportiva esse conceito crucial para entendermos a psicologia pátria.

"Por complexo de vira-latas, entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca voluntariamente, em face do resto do mundo", escreveu o consagrado dramaturgo. "Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos os maiores é uma cínica inverdade. Em Wem­­bley – Nelson refere-se a um jogo amistoso disputado em 1956: Inglaterra 4 x 2 Brasil – por que perdemos ? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade".

No entanto, ganhamos o pentacampeonato mundial e o complexo de vira-latas parecia definitivamente enterrado, como um osso esquecido no quintal. Porém, quando a seleção brasileira não vai bem das pernas – como não foi entre o tri e o tetra –, ouviu-se muitas vezes o agudo latido do cachorro magro que se sentia inferiorizado.

Dentro de nós, ouvindo as ex­­plicações dos técnicos e dos jogadores para as derrotas sofridas e os títulos perdidos, o ectoplasma do vira-lata uivava de felicidade e concordava abanando o rabinho.

O nosso lado cão, na visão romanceada do grande Nelson, confundia-se com a evidência de que com aqueles técnicos e al­­guns jogadores convocados não era mesmo para dar certo como uma sentença divina, inapelável, condenando-nos à mediocridade eterna.

Nem tanto, é claro

Houve momentos em que saímos derrotados de campo, como na eliminação para a Itália em 1982 ou no fracasso da final para a França em 1998, mas não perdemos a compostura. Antes, pelo contrário, sentimos que o nosso time era bom ou, pelo menos, tão bom quanto os italianos e franceses.

Nessas horas, quando a autoestima de chuteiras fraqueja, recorremos à estante de livros para nos assegurarmos que não devemos nada para ninguém, no mundo inteiro, em duas formas de arte: o futebol e a música.

Nesses dois campos, somos su­­periores ou, mesmo nas piores fases, jogamos de igual para igual com qualquer um.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]