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"Todas as coisas que se corrompem são boas" – Santo Agostinho, Confissões, VII, 12.

Discutindo o problema da origem do mal, Santo Agostinho, um dos maiores sábios do cristianismo, ensina que mesmo que Deus não tenha criado todas as coisas com idêntico grau de perfeição, juntas, elas demonstram perfeição da Sua obra. Não há, portanto, nada da obra de Deus que não seja "bom", inclusive aquilo que parece ser mau.

Por outro lado, desde um ponto de vista psicanalítico, doutor Freud, nos Estudos sobre a Histeria, mostrou que uma forte descarga de sentimentos recalcados, por mais dolorosa que seja, pode levar o paciente à cura, libertando-os dos sintomas patogênicos. A esse método chamou "catarse".

Mais uma vez, o que parece como um mal, mostra-se no fim como um bem. É a partir deste duplo prisma que estamos tentando entender a exportação de violência das torcidas organizadas brasileiras durante a Libertadores: como um mal que é um bem. Mais ainda, os incidentes provocados por torcedores do Corinthians, na Bolívia, e do Palmeiras, na Argentina podem nos ajudar a fazer a catarse das torcidas patrocinadas pelos próprios clubes.

Internamente nos acostumamos com a violência, diante da liberdade operacional dos narcotraficantes em praticamente todas as cidades do país – antigamente dizia-se que a droga só corroía a juventude nas grandes metrópoles –, a agressividade no trânsito, o crime a qualquer hora do dia, os quebra-quebras em dias de clássicos como Atletiba e outros, sem esquecer-se dos lamentáveis incidentes em Londrina após o jogo do último domingo e o incompreensível e inaceitável despreparo do poder público para combater tudo isso.

Basta verificar o insuficiente número do contingente policial do Paraná para compreender as graves carências da segurança publica em nosso estado.

No caminho para a Copa do Mundo, o Brasil investe na modernização dos estádios, mas ainda busca uma forma de combater a ação de facções organizadas que, tristemente, levaram para fora de nossas fronteiras a violência tão conhecida.

Depois da morte do jovem torcedor boliviano em Oruro, vitima de um sinalizador lançado por integrante da Gaviões da Fiel, a polícia argentina teve de prender alguns torcedores uniformizados da facção Mancha Alviverde, por terem agredido os jogadores do Palmeiras antes do embarque da delegação no Aeroparque, em Buenos Aires.

Talvez, agora, o mal possa vir para o bem com atitudes mais firmes do Ministério Público e da Polícia para inibir as organizadas dentro e fora dos estádios; dentro e fora do país. A liberação de emoções ou tensões reprimidas fazem parte das manifestações dos torcedores, mas dentro da lei e dos bons costumes. Essa é a catarse boa.

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