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Thomas Soares da Silva, o Zizinho, tinha uma convicção: estamos nessa vida de passagem, nada fica. Refutava qualquer menção de imortalidade, queria apenas ser lembrado como um homem simples, morador de Niterói, que gostava de usar bermuda e chinelos.

Impossível olhar para as notícias de hoje e não cometer a heresia de discordar do Mestre Ziza, mesmo ele, instalado em seu lugar de direito lá em cima, depois de 80 anos bem vividos. Ele já tinha entrado para a história como um dos maiores craques do futebol mundial, mas ao morrer alcançou a imortalidade de que tanto desdenhava.

A desmenti-lo em cada imagem de drible, lançamento, passe, gol ou na altivez da passada elegante, irresistível, com a bola submissa aos seus pés. Impossível esquecer Zizinho, o único homem a ostentar a seguinte credencial: o ídolo de Pelé.

Uma imortalidade que não foi arranhada sequer pela maior tragédia da história do futebol brasileiro, o drama que transcendeu os limites do campo e que ficou gravado a ferro e fogo no imaginário de uma nação.

Zizinho estava lá naquele 16 de julho de 1950, sofrendo, diante de 200 mil pessoas, as conseqüências da fatídica derrota para o Uruguai. Uma derrota que nunca mais abandonou os personagens que viram a coroa de louros, na comemoração da véspera, transformar-se em coroa de espinhos e cruz carregada por toda vida.

Como ficou registrado nos anais da história, Zizinho, com sua genialidade e magia, saiu intacto da tragédia. Mas sempre foi solidário aos companheiros marcados pelo fracasso como o goleiro Barbosa e o zagueiro Bigode.

Em meio as lágrimas e ao "complexo de vira-latas que tomou conta dos brasileiros" – frase consagrada de Nélson Rodrigues –, surgiu o craque-redentor: Pelé. Foi com a sua arte de jogar e fazer gols, com o seu sorriso juvenil e com o seu destemor que o futebol brasileiro ressurgiu das próprias cinzas, superou os traumas e chegou a conquista do tricampeonato mundial.

Em termos de futebol não se pode comparar Pelé a nenhum outro jogador, passado, presente ou futuro. Os jogadores de hoje, altamente remunerados, poderiam se espelhar em outra característica do Rei do Futebol: a maneira sóbria e elegante como ele comemorou seus inalcançáveis 1.284 gols. Afinal, o que se vê nos estádios são jogadores transformando o momento mais empolgante do futebol, em lance digno de circo mambembe.

Craques como Leônidas da Silva, Zizinho, Ademir, Pelé, Didi, Garrincha, Tostão, Rivelino, Zico, Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho dignificaram a difícil arte de marcar gols e devem ser preservados como exemplo para todas as gerações. São os deuses da grande área.

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