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Provavelmente a mais discutida de todas as regras do futebol é o impedimento.

E da mesma forma que a sua correta interpretação é difícil para os bandeirinhas e tem derrubado a reputação de grandes árbitros, preserva-se a sua existência por representar a própria inteligência do jogo.

Está depositada na lei do impedimento, sacada genial dos ingleses que inventaram o futebol tal como conhecemos, toda a lógica e a estratégia do jogo. Qualquer alteração mais drástica em sua essência implicaria em sério risco ao sucesso do futebol como esporte apaixonante, arrebatador e surpreendente.

Muitas foram as tentativas da International Board em modificar a lei, ou pelo menos procurar reduzir o máximo possível as possibilidades de erros da arbitragem.

Há dois anos foi discutida proposta que poderia ter mudado muita coisa. A lei diz que "o jogador não está em posição de impedimento se está no seu próprio campo". Se não estiver no campo do adversário, não importa o posicionamento dos oponentes, pode ser lançado para receber a bola, que a condição é legal.

A Federação do País de Gales propôs uma substituição no texto para "um jogador só pode ser considerado impedido se estiver dentro da grande área adversária". E ali, mantendo os critérios, se não houvesse entre o atacante e a linha do gol ao menos dois defensores no instante do passe, etc. e tal. Tratava-se quase da extinção do impedimento. Era uma sugestão tentadora. E enganadora, pois em vez de tornar o futebol mais ofensivo, teríamos outro esporte. Não passou na reunião dos legisladores e guardiões das regras do jogo.

Se a mudança tivesse sido aprovada, os times jogariam na defesa, plantados para demarcar território na meia-lua da sua área. O meio-de-campo se desertificaria e tudo se resumiria a cruzamentos pelo alto, naquela cansativa tradição britânica que nós brasileiros batizamos de chuveirinho.

Há um mês a editoria de esportes desta Gazeta apresentou excelente matéria sob o título "Como um piscar de olhos". Ela apontava a incapacidade do ser humano em marcar corretamente um impedimento.

Foram ouvidos especialistas no assunto e até mesmo um médico, o espanhol Francisco Maruenda, para o qual "hoje em dia só há uma forma possível de ver e julgar um impedimento, que é quando se repete e congela a imagem pela tevê no momento do lançamento".

Por diversas vezes fez referência a necessidade, imperiosa, de a International Board adotar o uso dos recursos eletrônicos para dirimir as dúvidas do jogo. E o impedimento é uma fonte inesgotável de dúvidas.

É incompreensível que com todo esse moderno arsenal tecnológico à disposição da sociedade humana o jogo de futebol continue submetido unicamente aos olhos dos bandeirinhas e dos árbitros.

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