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Há um ano as multidões ocuparam as ruas das grandes cidades, assustando os políticos governistas e surpreendendo os da oposição. Em vez de aproveitar aquele momento histórico, propondo a união nacional de todos os matizes para atender às reivindicações populares e iniciar um programa de recuperação da imagem do Brasil para causar boa impressão durante a Copa do Mundo, o governo errou feio, passando à sociedade a ilusão de que o gigante que acordava seria ouvido.

As passeatas ordeiras e democráticas foram substituídas pelos vândalos que passaram a destruir o patrimônio público e privado, com a polícia engessada pelos governantes, até que um cinegrafista foi assassinado no Rio de Janeiro. Hoje o país está convulsionado e a realização da Copa tem sido usada como pretexto para todo tipo de protesto: de motoristas, cobradores, professores, policiais, sem teto e outros grupos descontentes.

Percebe-se que quem confiou na sensibilidade dos governantes ou dos políticos não contava com a astúcia de quem domina as manhas do regime patrimonialista. Este, na prática, não se renova, e nem mesmo o diálogo em alto nível é possível, pois a oposição desempenha o seu papel e os governantes reagem na mesma medida, pouco se importando com a dura realidade das ruas.

O futebol, como subproduto da sociedade, sofre os mesmos efeitos do abalo comportamental de milhões de pessoas contrariadas. O futebol está no centro dos acontecimentos, tanto por causa da reação que provoca nos torcedores com paixão exacerbada como por essa verdadeira comoção nacional causada pelo desvio de prioridades públicas e o elevado custo de obras atrasadas ou inconclusas para o Mundial.

A Copa, que deveria servir de instrumento para o congraçamento das pessoas e a elevação do caráter nacional, pela honra de o país ser a sede do maior acontecimento do futebol mundial, transformou-se em objeto de desprezo e até mesmo de ódio por parte de muita gente.

O ódio entre as pessoas tornou-se tão assustador que o Atletiba desta tarde, em Maringá, quase foi com torcida única para evitar que as gangues travestidas de torcidas organizadas se engalfinhem, causando mais prejuízos aos clubes. Até o Ministério Público intervir e decidir pela presença das duas torcidas. É triste contemplar o ódio entre torcedores, ainda, que, para salvação da humanidade, o ódio não seja um sentimento de uso corrente.

A paixão do esporte, pelo menos para mim, me remete à infância, doce universo em que não há lugar para sentimentos subalternos. Guardo a virtude do entusiasmo de correr atrás da bola e de vibrar com um gol. Quem se nutre de entusiasmo não é capaz de odiar. O ódio é o castigo dos energúmenos.

Lamentavelmente isso revela a nossa incapacidade de superar ideologias contrárias e interesses opostos para celebrar o megaevento que projetará sobre o nosso país todos os holofotes da mídia internacional.

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