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Despertado pelo tema e coagido pela indicação do bonequinho de O Globo (que aplaude de pé), assisti ontem, numa sala de cinema do Shopping da Gávea, o documentário Democracia em preto e branco. O filme mostra como pano de fundo a lendária Democracia Corintiana, retratando a importância do futebol e da música para a redemocratização do país nos anos de 1980.

Sou de uma geração anterior àquela do documentário. Convivi com uma geração de ouro nos estádios e nos palcos, antes e durante as ordens de chumbo do golpe militar. Havia uma diferença: os grandes jogadores da época eram totalmente alienados em relação à política. Os artistas, além das geniais composições, eram engajados à causa. Protestavam. Sócrates, o líder do movimento corintiano, disse com muita propriedade: "Aqueles craques dos anos 1960 e 1970 eram românticos com a bola nos pés, mas fora dos campos eram absolutamente quietos. Imagine se na época do golpe militar, um único jogador, como Pelé, tivesse falado algo contra os excessos?"

Voltando ao documentário, excelente por sinal, pude refletir sobre a força que a imagem de um jogador de futebol pode projetar, seja para o bem ou para o mal. Não entro no mérito se aquele movimento ideológico do futebol brasileiro foi certo ou errado como modelo de gestão esportiva.

O ex-goleiro Leão, por exemplo, achava que o método revolucionário para o contexto ditatorial em que estava o país não era certo. A maior parte da imprensa, da época, e o presidente do C.N.D., um general, também não avalizavam. O que importa, porém, é bem mais profundo. A atitude de Sócrates, Casagrande e Wladimir, dentro de campo, refletiram de tal forma nos comícios pelas Diretas Já, que jamais São Paulo agregou tanta gente num ato público. E ali, de fato, começava a redemocratização do país.

Com raras exceções, a imagem do jogador de futebol é muito maior do que ele pensa. Literalmente. E, hoje, não há jogador com maturidade e atitude político/social para meter a cara e defender uma causa nobre. Além de Sócrates, lembro-me da atitude política impactante de Carlos Caszely, maior ídolo do futebol chileno, que se negou a estender a mão para o ditador Pinochet. O ato em si não derrubou o presidente do Chile, claro. O general continuou no poder. Mas a cena emblemática de Caszely foi usada até a queda do tirano.

Não há como se exigir atitude de ninguém, mas os jogadores famosos deveriam ter consciência do poder que a imagem deles reflete sobre a sociedade. Abraçar uma grande causa social e humana, sem medo, independe de estudo acadêmico. Mas precisa ter discernimento.

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