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Um antigo vigário precisou viajar mais de 20 km a cavalo para dar extrema-unção a um doente. Cansado, saltou do animal e foi logo perguntando: "Minha senhora, por que vocês não fizeram uma casa mais perto da cidade?" A mulher do moribundo respondeu: "Padre, e por que não fizeram a cidade mais perto da gente?". Essa historinha serve para explicar o distanciamento de muitas entidades com o povo, e, consequentemente, o abandono deste.

Reis, czares e ditadores, foram e irão caindo ao longo do tempo. O poder – e o Papa Francisco parece dar mostras disso – não tem outra saída senão aproximar-se do povo. Não lembro na história do Paraná, um momento tão afetivo e aconchegante quanto este, envolvendo arquibancada, campo e gabinete. Tudo me parece espontâneo, salvo brutal engano de minha parte. Não conheço os dirigentes atuais, mas estou sabendo que eram, na sua maioria, torcedores de degrau comum, e que pegaram uma massa semifalida. Trouxeram Dado Cavalcanti – o melhor técnico do "Paulistão" do ano passado, que montou um belo elenco. O treinador ganhou pontos no campo e conceito na mídia quando rugiu durante uma coletiva de imprensa, pedindo de forma enfática apoio financeiro aos funcionários do clube que estavam com salários atrasados. A resposta foi o inusitado patrocínio bancado pela facção organizada Fúria Independente.

Não vejo nada de errado ou indigno e nem comprometimento como moeda de troca. Há quem entenda que a estampa de uma multinacional seja mais charmosa. Será? Lembram do patrocínio da Coca-Cola na camisa da seleção brasileira? Quanto aos valores, é outra coisa. A nostálgica "vaquinha", coitada, nasceu lá pelos idos das vacas magras, quando não havia salário fixo para os jogadores, e a coleta final da torcida era associada aos números do bicho – se conseguissem dez mil, chamavam "coelhinho"; 25 mil réis, "vaquinha". Daí a expressão que bate literalmente com o anúncio de hoje. Um abismo de diferença, por exemplo, com a "manada" de R$ 30 milhões que o Corinthians recebe da Caixa. São os disparates deste capitalismo selvagem.

Não deixa, porém, de ser um exemplo incontestável do que pode ser buscado daqui para frente como alternativa na comunicação das marcas. Se no mercado publicitário não existe uma receita, deve haver tentativa, criatividade e coragem para arriscar. A nossa "vaquinha" brasileira nada mais é do que esse tal de crowdfuding (financiamentos coletivos) que rolam mundo afora e que ajudaram até a eleger Obama.

O alerta de Dado mobilizou. O time do Paraná dentro de campo é o melhor de todos desde a caída do clube para a Série B. Tem reposição de peças pontuais e uma forma tática de atuar que se caracteriza pelo estilo de arrastão. Se conseguir dosar o enorme desgaste físico que sofre nesta sanfona, e a vaquinha sagrada não for para o brejo, classifica. Independentemente do resultado de hoje.

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