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Por razões alheias à minha vontade, vim para o Rio de Janeiro no começo de maio, para um bate e volta. O tempo, porém, foi se estendendo por circunstâncias inesperadas, e o bate e volta ficou no "bate" sem volta prevista. A princípio nada de estranho, até porque o Rio é minha segunda casa. Só que desta vez o rumo foi alterado por uma situação delicada envolvendo uma pessoa muito próxima.

Pela extensão do quadro, fiquei impedido inclusive de escrever a coluna. Pedi licença para que pudesse mergulhar na causa em questão. Aí, por uma dessas raras coincidências, o problema que enfrentei acabou entrelaçando com outra questão de saúde, que hoje envolve o bicampeão mundial Nilton Santos.

O derby Brasil e Inglaterra reabre amanhã um estádio exuberante na estética, mas sem o glamour do original, que tinha no campo de jogo a alma de monstros sagrados como Nilton Santos. O gasto faraônico despejado naquele teatro místico da bola ofende um de seus atores mais espetaculares, e que ajudou a dar ao Maracanã a fama universal que carrega. Aos 88 anos, a "Enciclopédia do Futebol" é apenas uma estrela solitária na Clínica da Gávea, acometido de Parkinson e Alzheimer. Sem receber ao menos a visita de sua esposa que também passa por delicada situação de saúde.

O fascínio que trago desde criança pelo futebol inglês – meus times de botão eram Manchester e Arsenal – e pelo confronto Brasil e Inglaterra em si, hoje está em xeque. Da primeira Copa em 1966 aos Jogos Olímpicos do ano passado, acompanhei profissionalmente boa parte desse clássico mundial.

Não sei como explicar. Isso tudo bastaria para ampliar minhas razões de ir ao "novo" Maracanã. Mas um profundo choque de valores, descaso e injustiça tocou mais forte do que o romântico passado, ou justo por esse passado romântico, minha consciência cassa qualquer liminar que a paixão conceda para ir ao jogo, mesmo estando no Rio. É um ato voluntário, espontâneo e sincero. Tudo parece exuberante, mas a tristeza é maior.

O encontro

Entrevistei Nilton Santos em Curitiba quando foi lançado o livro Minha bola, minha vida. Foi na década de 90, no programa Cartão Verde, transmitido em rede e centralizado em São Paulo pelo jornalista Flávio Prado. Juca Kfouri, que fazia parte da mesa, alfinetou com humor perguntando como foi marcar Stanley Matthews, considerado o melhor jogador inglês de todos os tempos. Nilton foi direto: "Olha, em tantos anos de futebol, somente dois atrevidos me endoidaram: Mané (Garrincha) quando chegou para treinar no Botafogo e esse senhor magrelo (Matthews tinha 41 anos quando a Inglaterra ganhou do Brasil por 4 x 2, em 1956)". Rimos todos, nós e ele. Humildade digna dos gênios.

Nilton Santos fez uma dedicatória e presenteou-me com o livro que estava com sua esposa, dona Célia.

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