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As crianças são preciosas. Tempos atrás, minha netinha saiu com essa: "Vó – referindo-se à Rose – não fique se achando só porque apareceu na televisão!" Ocorre que por alguma razão, a Fabiana – na época com 5 anos de idade – ligou o aparelho e viu minha mulher sendo entrevistada no Canal 12. Apesar do carinho imenso entre elas, aquilo saiu espontâneo, e teve um quê de doçura mesclado com uma sábia recomendação. Hoje, lembrando o fato, rimos e exercitamos a filosofia transmitida pela querida neta. Não fique "se achando". Ponto.

Na verdade, a frase da Fabiana é uma alfinetada na vaidade que todos nós carregamos. O ser humano, com exceções, é claro, vive "se achando". Acha que é muito evoluído, quando na verdade ainda rasteja na busca da essência dos valores. Isto é, quando busca. Continuamos sendo tribais, por exemplo, quando discriminamos pessoas, lugares ou tradições consideradas "estranhas". Estereotipamos. Rotulamos. Sempre pejorativamente.

O que aconteceu com o jogador Tinga, do Cruzeiro, no Peru, reproduz o racismo impregnado na sociedade. É secular e permanece no inconsciente coletivo das pessoas. Nem sempre com maldade, mas muitas vezes com uma pitada pouco gentil. Gentílicos como "japinha", "polacada", "gringo", "paraíba", "judeuzinho", "portuga", "negrada (africanos)", "catarina", são comuns em programas de humor e nas piadas de boteco. Racismo?

Durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, estava com o amigo Dias Lopes, aqui da Gazeta do Povo, quando a Argentina se classificou para a semifinal de futebol masculino contra o vencedor de Brasil e Nigéria, que jogariam no dia seguinte. O periódico Olé, de Buenos Aires, saiu com essa manchete: "Que se vengan los macacos!". Depois de fortes reações diplomáticas, o jornal pediu desculpas.

Quando o sujeito é negro, o preconceito é cruel. Se negro e jogador de futebol, o ato torna-se infame. Gostaria de que o caso do Tinga servisse como divisor de águas. Assim como a morte do cinegrafista Santiago de Andrade. Como foi o holocausto. Ou as vítimas da inquisição. Não basta, porém, Joseph Blatter recomendar faixas do tipo moralista festivo – "Não ao racismo!". A pena deve ter a extensão do dano causado. Implacável. Fulminante.

No futebol, se dá valor para o lado material. Estádios "padrão Fifa"; tecnologia de ponta na preparação física; transações bilionárias através de offshores, e por aí vai. Ainda rastejamos para atingir um plano maior de evolução espiritual, cósmica, holística. Evoluímos na velocidade de uma lesma anestesiada. E "nos achamos".

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