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Alguém imaginaria que o Brasil pudesse perder o título mundial para o Uruguai na final da Copa de 50 no Maracanã? Além da campanha arrasadora, a seleção jogava pelo empate, em casa e com apoio de duzentas mil pessoas. Mas perdeu.

Talvez seja este o exemplo mais emblemático do esporte em todos os tempos, para desbancar a lógica, e mostrar que o forte não é eterno e nem imbatível. Fora do campo esportivo também estamos cheios de histórias e estórias clássicas.

Na Ilíada, Homero descreve sobre os segredos da força e da bravura de Aquiles. O recém-nascido, diz a lenda, foi mergulhado nas águas de um rio que dava sete voltas no inferno e imunizava aqueles que ali fossem banhados. Aquiles ficara então com o corpo invulnerável para os combates, exceto por onde a mãe o segurou: o calcanhar. Durante a Guerra de Tróia, Aquiles foi mortalmente ferido por uma flecha envenenada que atingiu exato aquele ponto.

Aqui em Pequim, a flecha chinesa foi disparada, e em alta velocidade deve atingir o calcanhar de Tio Sam, que ao longo da história olímpica, preocupou-se com soviéticos, alemães orientais e cubanos.

A gana ideológica por medalhas, depois da Olimpíada de Berlim, começou nos Jogos de 1952 (em Helsinque) no início da "guerra fria", quando o alvo era a União Soviética. O bloco comunista acordou, sentindo que para este tipo de marketing esportivo, não haveria mídia interessada em distorcer ou impedir sua divulgação.

Sobrou Cuba, uma força emergente, que estrangulada pelo boicote comercial, procurou mostrar ao mundo que existia um valor inquestionável em relação à saúde e ao esporte, através de conquistas de medalhas.

Mas a crise financeira da Ilha não permitiu que a estrutura forte dos anos oitenta fosse mantida, e o esporte de alto nível começou a cair, o que bastou para que os EUA relaxassem.

Nesta brecha entra a China, de olho no calcanhar ianque. Com um trabalho paciente – virtude maior de seu povo ao longo da história – eles cresceram em quase todos os esportes nos quais os norte-americanos se acomodaram. O recado que os chineses querem dar ao mundo é que além da economia, borbulha também um povo forte e vitorioso.

No esporte como na vida, não há perdedor, o que existe é sempre alguém mais determinado ao êxito, eventualmente chegando a ele, se preciso, cravando no calcanhar daquele que cruza no seu caminho.

Todos estão sujeitos a expor o seu calcanhar-de-Aquiles. Não há rio algum que dê voltas pelo inferno, tantas quantas necessárias, para imunizar tudo e sempre.

Hoje, no esporte, estão sendo os chineses e com todos os méritos. Mas as suas muralhas também já foram ineficazes, quando transpostas por invasores mongóis e manchus. Penso que, assim como a África, o continente sul-americano possa crescer e transpor este obstáculo. Para isso precisa paciência, determinação e seriedade.

Os (quase) imbatíveis

Nosso vôlei masculino parecia, meses atrás, medalha de ouro certa. Ela pode vir, mas já não é certeza. Nem tanto pelas derrotas de ontem contra a Rússia e de um mês atrás para os Estados Unidos. Também não pelo rompimento com Ricardinho. O calcanhar é o próprio Bernardinho, um vitorioso na quadra e fora dela, que passa ao grupo toda a energia que carrega. Energia antes sempre positiva, mas hoje nem tanto. Bernardinho espelha uma crise existencial cada vez mais visível. E isso não há como dissimular.

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