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Tem dias que desperto com a sensação de que o nosso povo está ficando mais sabido. A mídia, com exemplar atuação do Ministério Público e da Polícia Federal, faz a faxina e escancara gavetas entulhadas de colarinhos sujos. Todo mundo fica sabendo. Tempos atrás, o único alerta para testemunhar um delito era o alvoroço vindo do poleiro ou o latido do vira-lata. Espécie de grampo de telefone para flagrar o ladrão de galinhas, ou a cigana no varal de roupas.

Galinheiros e varais ocupavam espaço no noticiário policial, como "grandes roubos" da época. Por isso é que ainda se ouve o velho chavão "(...) antigamente é que era bom, não havia roubo, não havia crime." Ledo engano. Havia sim. Roubava-se muito. Não havia cobranças e denúncias de uma imprensa investigativa implacável como nos dias de hoje. No passado, muitos ficaram impunes, deixaram vasta herança para os descendentes, emplacaram nomes de ruas, estádios e até de cidades. Os tempos são outros, e apesar de tanta notícia desagradável, garanto que, pelo menos para mim, foram menos confortáveis os tempos vividos dentro uma imprensa calada.

Hoje sinto orgulho de compartilhar com os colegas aqui da casa, e do jornalismo esclarecedor que vivencio. Especialmente neste período em que a preliminar da Copa está sendo jogada por atores seduzidos apenas pelo lucro. Antes dos protagonistas da Copa entrarem em cena, é um direito de o público saber todos os detalhes da casa de shows. Um espetáculo no teatro Colón (Buenos Aires), por exemplo, é contagiante quando sua história é conhecida. Como foi construído? Quanto foi gasto? No dia da apresentação, a intimidade com o artista é maior.

No caso da Copa do Mundo, a imprensa quer sim falar dos artistas reais, dos craques que jogarão aqui. Ninguém mais aguenta aparições e entrevistas de Bebeto e Ronaldo. Jérôme Valcke, Rebelo, Marín, Blatter e outros que já deveriam estar nos vestiários. Ou fora dele. Daqui a um mês e pouco começa o Mundial. Entendo porque a pesquisa de opinião pública mudou e hoje a maioria não vê a Copa como um bom negócio. Quando anunciaram que seria aqui – e isso aconteceu na África do Sul –, foi um frenesi coletivo. Como se um jatinho voasse rasante, espalhando dólares para a população. E que assistiriam ao vivo uma Copa do Mundo. A frustração veio com a realidade. O jatinho despeja dólares para poucos, e a maioria absoluta vai assistir aos jogos pela televisão. Da mesma forma como fizeram nas últimas Copas.

A Copa do Mundo é um megaevento, ah isso é! Caras pintadas, casas coloridas, fan fest, e por aí vai. Mas o povo está sabido. No fim da festa vai cobrar mais de quem ganhou fora de campo do que da seleção se perder dentro dele.

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