• Carregando...
 | André Rodrigues/Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
  • Mario Celso em meio às fotos de celebridades e no detalhe abaixo com o apresentador Chacrinha: alívio com o

Mario Celso Cunha anotou o nome de cada emissora de rádio que atendeu na quarta-feira, 19 de fevereiro. Foram 35, espalhadas pelo Brasil. Somando emissoras de tevê, jornais e sites, a conta passou de 50, incluindo veí­­culos da Argentina e do Paraguai. A maratona foi consequência direta da manutenção de Curitiba como sede da Copa de 2014, anunciada na véspera. E poucas pessoas participam deste processo há tanto tempo como Mario Celso. Primeiro como vereador e presidente da Comissão de Copa da Câmara; depois, como secretário estadual – função rebatizada neste ano de coordenador-geral de Copa no Paraná.

Um trabalho que exige resposta diária a mais de 100 e-mails e a outra centena de telefonemas. Para não confiar apenas na memória, mantém em sua sala, no Palácio das Araucárias, um armário cheio de pastas azuis e amarelas. Surge um tema, ele bate na sineta sobre a mesa e uma das duas secretárias da coordenação vem para pegar a pasta correspondente ao tema.

Mais chamativas do que as pastas, somente as paredes cobertas de fotografias com celebridades. Um hábito adquirido quando ele trabalhava com um dos maiores comunicadores do país. E nem sonhava em, décadas depois, ser um dos atores principais do Mundial na cidade em que nasceu.

Qual sua primeira lembrança de Copa do Mundo?

Da Copa de 62, no Chile. O Pelé se machucou, ficou todo mundo preocupado. Aí apareceu o Amarildo e o Brasil foi bicampeão. Meu pai, Jacinto Cunha, era diretor-geral da PR-B2. Acompanhei a Copa inteira pelo rádio.

Imaginava, 52 anos depois, estar envolvido com a realização do segundo Mundial no Brasil?

Não. A coisa foi evoluindo, acontecendo. Eu era vereador, aí por ser do esporte me puseram na presidência da Comissão da Câmara. Eu era líder do Beto Richa na Câmara e quando ele virou governador me trouxe para a secretaria. Estou desde o começo da ação para trazer a Copa, em 2007. Fui em todas as reuniões. Com o tempo peguei amizade e hoje conheço todo mundo nos ministérios, COL [Comitê Organizador Local], Fifa. Não preciso de crachá para entrar em lugar algum.

Qual o momento mais delicado nesses sete anos?

Foi agora, quando houve essa manifestação da Fifa de que Curitiba poderia ser excluída. Mas sempre mantive a certeza de que ficaríamos.

Em nenhum momento teve dúvida?

Nenhum. A única preocupação era a ótica da Fifa sobre a obra. Tecnicamente, não tinha como deixar a Arena de fora.

Pessoalmente, o momento mais delicado foi naquele discurso de 2010 para conselheiros do Atlético, em que você teria insinuado que o clube poderia pegar dinheiro no BNDES que haveria um perdão futuro da dívida?

Foi um momento desagradável, fruto de má interpretação. Nunca falei em calote. Eu era conselheiro do clube e vereador. Falei que dívidas dos clubes com o INSS seriam perdoadas, como está acontecendo. Tem um projeto na Câmara dos Deputados que trata disso. Aconteceu na Espanha, em Portugal, em todo lugar. Nunca sugeri que o Atlético desse o calote.

A partir dali, teve uma preocupação maior de separar a sua relação com o Atlético da atividade de secretário?

Não tive essa preocupação. Sempre defendi todos os clubes. Lutei duramente para incluir o Couto Pereira como campo de treinamento para a Copa, o J. Malucelli. O problema é que aquele vídeo foi usado politicamente pelo grupo que era oposição no Atlético.

A Copa em Curitiba sempre teve um ambiente de Atletiba. Isso atrapalhou a preparação da cidade?

A paixão clubística é natural, mas nem todo mundo misturou. Tem muito coxa-branca e paranista que torceu pela vinda da Copa porque sabe da importância para a cidade. O que mais atrapalhou foi o pessoal de fora. O secretário de Copa de Porto Alegre [Airton Carlos da Costa], que ficou inventando que eles iam levar um dos nossos jogos porque Curitiba estava fora. O narrador da Fox argentina que falou que Curitiba estava fora. Um jornalista da Folha de S. Paulo também. Aí depois que Curitiba foi confirmada, muita gente falou em vergonha. Vergonha é roubalheira, vergonha seria se não tivesse Copa. Agora, a Copa em Curitiba é só motivo de orgulho.

O político que hoje se orgulha de não precisar de crachá para circular pelos ministérios, pela Fifa e pelo COL teve uma carreira sempre ligada à comunicação. Trabalhou em rádio, seja com futebol ou com jornalismo geral. Foi apresentador do Globo Esporte também, junto com Gilberto Fontoura e Vinícius Coelho. Sempre falando no rádio e aparecendo na televisão, ganhou impulso para a carreira política, que lhe rendeu sete mandatos como vereador e um de deputado estadual.

Muito desse caminho foi trilhado por uma experiência de dois anos, no Rio. Tempo em que trabalhou com Abelardo Barbosa, o Chacrinha, levado pelo jornalista paranaense Ferreira Netto, morto em 2002. Além de conhecer a televisão por dentro, adquiriu o hábito que dá um aspecto totalmente pessoal ao seu ensolarado e abafado gabinete, na ala D do primeiro andar do Palácio das Araucárias, no Centro Cívico.

As paredes da sua sala são cobertas de fotos suas com esportistas, artistas, políticos do mundo inteiro. De onde vem esse hábito?

Cada evento que eu vou, tiro foto com quem está lá. São mais de 10 mil fotos com personalidades. Cada foto é uma história. Comecei a fazer isso quando trabalhei na Discoteca do Chacrinha.

Como foi parar no Chacrinha?

Eu trabalhava no Instituto Brasileiro do Café em Curitiba. O irmão da minha mãe era secretário-geral do IBC e eu era auxiliar administrativo. Fui transferido para o Rio. Eu era muito amigo do Ferreira Netto, que era diretor da Discoteca do Chacrinha, na TV Excelsior, e me levou para trabalhar lá. Era coordenador, arrumava a posição dos artistas nas mesas. Vinha Elis Regina e Jair Rodrigues, colocava na primeira fileira. Outros menos famosos, colocava para trás. Fiquei dois anos. Aí o Chacrinha foi para a Globo, ainda trabalhei um tempo com o Flávio Cavalcanti e voltei para Curitiba no fim de 1968.

Como era o Chacrinha?

Sensacional, um coração sem tamanho, muita paciência. Tinha uma verdadeira paixão por ser reconhecido pelas crianças.

E as chacretes?

No meu tempo não tinha, era só artista no programa. As chacretes entraram na Globo. Perdi a melhor parte [risos].

Você disse que cada foto é uma história. Qual a melhor?

Fui convidado para um amistoso entre Brasil e Irlanda, em Londres [2011]. Estávamos chegando no hotel do Brasil e vi saindo o príncipe Charles com a mulher dele [Camila Parker]. Uma grande coincidência. Foi uma foto marcante por ser alguém que é difícil de fotografar.

Em junho, Mario Celso terá a chance de ampliar a coleção de fotos com a Copa em Curitiba. Será mais difícil por causa da mais recente das suas atribuições, integrar o comitê de comando da segurança para o Mundial no estado. Além de ganhar mais uma série de reuniões na agenda pelos próximos quatro meses, é provável que precise ficar na sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública durante os jogos.

Se isso acontecer, não poderá ver acabado e em pleno funcionamento o estádio que, hoje, visita quase diariamente. Basta estar em Curitiba para Mario Celso ir à Arena da Baixada, seja para alguma reunião, seja para verificar o avanço dos trabalhos. Uma obra que, ele admite, mexe tanto com a mente do coordenador-geral de Copa no Paraná quanto com o coração de torcedor do Atlético. E uma rotina que deixará saudade quando o Mundial acabar.

Quando você entra na Arena da Baixada, o que os olhos do coordenador de Copa enxergam?

Uma obra fantástica, de um gigantismo que não tem como dimensionar. É emocionante.

E o que os olhos do torcedor atleticano enxergam?

É de arrepiar. Fui por muitos anos trabalhar na velha Baixada para transmitir jogos. Arquibancada de madeira, o pinheiro que era uma marca registrada do estádio, só duas cabines de rádio. Agora é um estádio de Copa do Mundo. Fico arrepiado.

Qual a primeira coisa que fez quando chegou em casa na noite do dia 18, com Curitiba mantida na Copa?

Fui direto para o computador me atualizar daquilo que a mídia internacional estava falando da Arena. Só fui dormir às duas da manhã. Ou melhor, deitar. Estava em estado de choque. Não conseguia dormir. Só fui acordar mesmo disso tudo ontem [quinta-feira]. Foi quando voltei à realidade.

Onde estará no dia 16 de junho, quando Irã e Nigéria farão o primeiro jogo da Arena na Copa?

Provavelmente no Centro de Comando e Controle de Segurança. Me colocaram no comitê de segurança, preciso ficar lá. Não vou conseguir ver o jogo do estádio.

E no dia 13 de julho, quando acabar a Copa?

Aí estarei nas mãos do Beto, ele vai decidir. Devo seguir na Secretaria de Esporte. Nunca tirei férias em 30 anos, vou continuar trabalhando, mas com o alívio da missão cumprida. Muita gente fala que ganhei muita visibilidade com a Copa, mas pode ter certeza: não serei candidato a nada.

Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]