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Muitos craques construíram parte da sua história no Pinheirão. Da­­que­­les que defenderam clubes paranaenses dos anos 80 para cá, não existe um que não tem um gol decisivo, uma bela jogada ou uma boa história para contar do estádio. Pés bem mais famosos pisaram ali também. Zico era o astro da seleção que despediu-se no Pinheirão para a Copa do México, em 1986. Em 1991, com papel e caneta na mão, reforcei a legião de piás que foi ao Pinheirão caçar um autógrafo do Neto e do Canniggia, astros de um Brasil x Argentina. Doze anos mais tarde, também armado com papel e caneta, fiz parte da legião de jornalistas que cobriu o duelo entre Ronaldo e Forlán pelas Elimina­­tórias do Mundial de 2006.

Hoje, o craque que manda no Pinheirão é outro. É para consumir crack que usuários de drogas se enfiam nos corredores do estádio, lacrado pela Justiça desde 2007. Placas metálicas (inclusive da calçada da fama) e itens do museu do futebol paranaense já foram roubados para sustentar o vício dos novos inquilinos. Mo­­radores da região evitam passar à noite por perto, para não serem assaltados.

Para quem quiser ter a noção do abandono do Pinheirão, sugiro uma visita ao blog PRFutebol (prfutebol.blogspot.com), que conheci a partir do Twitter do excelente jornalista Rafael Porto, da Rádio Tran­samérica. Se você ainda não viu as imagens, vale o clique. O gramado virou um imenso matagal que quase alcança o alto das enferrujadas traves. Há até árvores no antigo campo. Do lado de fora há muros pichados, catracas e grades enferrujadas, portas podres e todo o tipo de sinal de abandono.

Sempre que é questionada so­­bre o abandono do Pinheirão, a Fe­­deração fala que não tem dinheiro para realizar a manutenção, cita a interdição pela Justiça e diz que as propostas pelo terreno não são satisfatórias. Embora me pareça claro que quanto mais abandonado, pior será o valor de mercado.

Acho estranho a prefeitura e o governo do estado simplesmente não tomarem uma posição a respeito. O Pinheirão, hoje, é um enor­­me foco em potencial de doenças e criminalidade. Deixou de ser meramente questão esportiva. Virou questão de saúde e segurança pública. Desvaloriza uma região importante, afeta diretamente a imagem da cidade – algo sempre muito caro a este grupo que hoje governa a capital e o estado.

O contrato de cessão do terreno do Pinheirão, de 1969, permite a retomada do terreno pela prefeitura caso as benfeitorias prometidas pela Federação não fossem cumpridas em seis anos. Dá para fechar o olho e escolher na sorte o que não foi cumprido. Basta vontade. E ter um projeto para dar utilidade à área. Ginásio municipal com um campo em anexo e instalações para abrigar federações e treinar crianças? Pode ser. Casas populares? Por que não? Vender para alguém que transforme aquilo ali em condomínio de luxo, shopping ou supermercado? Tá valendo. Só não vale permitir que os cracks sigam mandando no castelo mal­­-assombrado de Onaireves Moura.

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