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Alex e Juninho Pernambucano em entrevistas e Paulo André em um artigo no jornal O Estado de S. Paulo fizeram as mais recentes críticas ao saturadíssimo calendário do futebol brasileiro. A reclamação é justíssima. Há muito mais jogos do que o bom senso e a saúde recomendam. Ano que vem, com Copa, vai ficar pior ainda.

O ciclo desencadeado pela sequência desumana de partidas é cruel. Mais jogos levam a mais lesões. Mais lesões obrigam os técnicos a recorrer a jogadores de menor capacidade técnica. A qualidade técnica das partidas vai ao subsolo, seja porque os craques se poupam para suportar mais partidas; seja porque eles são obrigados a se poupar; seja porque o calendário cria uma seleção natural em que resistem os mais fortes fisicamente, não necessariamente os melhores tecnicamente.

A longo prazo, a vida útil do jogador diminui. Será cada vez mais raro um jogador que fez boa parte da carreira no Brasil estender sua carreira profissional. Fora as sequelas para a aposentadoria. São inúmeros os relatos de ex-atletas que têm dificuldade para subir uma escada ou carregar os filhos no colo.

Exatamente por isso, por serem as maiores vítimas do calendário, os jogadores deveriam ir além da crítica. Muitos boleiros se manifestaram a favor do basta dos brasileiros a tudo de errado que acontece no país com os protestos iniciado em junho. É hora de eles irem para a rua. Ou, melhor dizendo, não irem a campo.

Somente uma paralisação dos jogadores será capaz de fazer o torcedor comum cobrar dos dirigentes um tratamento melhor ao futebol praticado no Brasil. Isso diz respeito a calendário, sim, mas também a uma administração profissional que, por exemplo, não trate como normal elencos e funcionários terem de sobreviver em meses com muito mais de 30 dias.

Enquanto ficarem só no discurso, os jogadores conseguirão apenas dar manchetes para jornais e sites, assunto para mesas-redondas de rádio e tevê. Mas a mudança necessária exige medidas mais enérgicas de quem efetivamente comanda o espetáculo.

Protesto tricolor

Os jogadores do Paraná já pararam. Não por causa do calendário, mas para receber salário. Não é a primeira vez e é difícil acreditar que será a última. Qualquer clube tem a obrigação de pagar aquilo que promete a jogadores e funcionários. Se isso não acontece, é correto cobrar, mesmo que isso possa se voltar contra quem cobra. Dado Cavalcanti deixou claro que o elenco paranista assumiu uma forte carga psicológica ao expor o problema. Se enroscasse no lanterna, não faltariam oportunistas e apaixonados para chamá-los de mercenários, uma grande bobagem. Que a coragem paranista se torne regra. Todo jogador, técnico e funcionário de clube tem o direito de cobrar publicamente aquilo que as diretorias prometem, mas não entregam. Perante a classe e o futuro do futebol brasileiro, esse direito vira uma obrigação.

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