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O Coritiba foi campeão do segundo turno do Paranaense em um clássico surpreendentemente bom. Teve gol-relâmpago, expulsão, empate duas vezes do time em inferioridade numérica e resposta rápida dos donos da casa. O que sobrou de emoção nas chuteiras, deixou a desejar em presença na arquibancada. Foram 20.896 torcedores, todos de verde e branco, para acompanhar o principal clássico do Paraná. Pouco, por três motivos.

Primeiro, porque o Alviverde jogava sua vida na luta pelo tricampeonato. Nada pode motivar mais uma nação da bola, até porque o elenco é tão forte, se não mais, do que o do rival. O segundo ponto é que cerca de 34 mil lugares do Alto da Glória destinavam-se aos coxas-brancas. Nada de brigas pipocando ao redor do estádio. Para finalizar, a diretoria tentou atrair mais gente com uma promoção de venda de ingressos para amigos de sócios. Metade do valor de uma mensalidade para engrossar o coro com mais uma voz não parece um sacrifício.

Acima de tudo, é imperdoável, inadmissível e lamentável – haveria outros adjetivos, mas são tantos que é melhor parar por aqui – que um jogo desse porte não tenha o calor das duas torcidas. Futebol é confronto, exige lados opostos para existir. Manter o acordo de torcida única celebrado em fevereiro foi certíssimo, já que os atleticanos tiveram seu Atletiba particular naquele momento.

O vacilo foi anterior: ter levado adiante essa ideia antidemocrática como forma de combater a violência. Culpa dividida por muitos. Principalmente pela forma como o futebol é tratado pelos torcedores no país – como alimento de uma guerra de clãs. Não há polícia no mundo capaz de impedir 100% que "animais de duas patas" criem desordem e espalhem violência pela cidade.

A falta de bom senso (civilidade) talvez explique a relutância das torcidas em ir aos estádios, mesmo considerando o fato de que o Estadual não empolga como competição e que as equipes paranaenses hoje são tecnicamente limitadas. No ano, o Coritiba tem média de 9.900 torcedores por jogo; o Atlético, como inquilino da Vila Capanema, vem levando ao campo cerca de 3.500 pessoas por partida.

Um dia antes de o Coxa erguer a taça do returno estadual, o Borússia Dortmund comemorou com muita cerveja – inclusive dentro das quatro linhas – seu bicampeonato alemão. O Estádio Westfalen abrigou 87.200 torcedores, sua capacidade máxima. Durante toda a campanha, somente uma vez o time amarelo e preto jogou para menos de 80 mil fãs em seu reduto – foram 78 mil. Claro que os números não servem de comparação, mas a fidelidade (média de 80.500 pessoas) e o cenário, sim. Apesar do teor alcoólico elevado nas proximidades do estádio, a alegria prevaleceu à brutalidade na coroação do campeão.

Espírito anos-luz distante do que vemos na Terra das Araucárias. Em Curitiba, no domingo, carros foram apedrejados por grupos de torcedores do time derrotado. Essa demência diminui o futebol e afeta a todos ligados a ele. Inclusive aqueles com a pedra na mão. Basta lembrar que dessas atitudes selvagens brotam indecências como a torcida única.

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