O curitibano tem razão ao tratar a Copa do Mundo com frieza. Não há motivo explícito para comemorar a breve chegada do evento à cidade. A falta de transparência no uso de recursos públicos, o folclore criado sobre legado e o discurso politiqueiro fazem do torneio da Fifa um engodo para grande parte dos moradores da capital.

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Levantamento da Paraná Pesquisas, trazido pela Gazeta no domingo, revelou parte da insatisfação. Para 77,5% dos entrevistados, por exemplo, falta fiscalização adequada para os investimentos relacionados à competição. Para 87,8%, setores mais importantes – como saúde e educação – estão sendo deixados em segundo plano. O aporte de recursos públicos na Arena da Baixada tem a reprovação de 86,7%.

Vale lembrar: no dia 31 de maio de 2009, quando o município foi indicado pela Fifa como sede, em Nassau, nas Bahamas, o então prefeito Beto Richa comemorou no Parque Barigui. Era um dia frio, chuvoso e apenas uma claque oficial esperava o anúncio para enfeitar uma rápida aparição no Domingão do Faustão. À época, 76% dos moradores queriam ir aos jogos e apenas 42% temiam desperdício financeiro.

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Na ocasião, o hoje governador soltou: "É o reconhecimento da excelência de nosso projeto (...) Será a cidade mais charmosa e a mais organizada. Faremos um evento muito bem feito. Os investimentos trarão um ganho duradouro à cidade". Todos ainda aguardam a materialização desse discurso.

Na prática, notícias cada vez menos empolgantes. A última foi o novo orçamento para concluir a Arena. Oficialmente, pelo menos para o Tribunal de Contas do Estado, o custo da Arena é de R$ 184,6 milhões. Havia até outro dia outro valor de R$ 219,9 milhões, confirmado pelo Atlético, em uma entrevista no site do clube. Agora a empreitada saltou para R$ 265 milhões. E detalhe: com 2/3 bancados pelo contribuinte, sem o mínimo de fiscalização dos governantes, explicações razoáveis do repasse e lista com acesso fácil das contrapartidas.

Não sei se há tempo para o discurso de Richa emplacar no Mundial. Muito provavelmente, não. Mas o poder público precisa dar uma resposta à crescente indignação com os rumos da Copa. Quem paga a conta deve dar uma satisfação sobre o sonho vendido à comunidade. Espera-se também clareza nos atos administrativos.

Não adianta só entregar o estádio no fim do ano – algo que não vai melhorar a vida de ninguém no dia a dia. Como os avanços sociais ficaram no blá-blá-blá, as pessoas estão cobrando lisura até a bola rolar. É essa a mensagem da pesquisa: "Não terei mobilidade urbana, mas quero honestidade". Poderiam começar publicando todos os contratos nos sites da prefeitura e governo, ao fácil clique da população.

Faltam 347 dias para a abertura do Mundial, mas se perdeu 1.521 dias desde o oba-oba no Barigui. Caso não dê para fazer o essencial, pede-se agora apenas o básico: transparência.

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