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Hitler foi o primeiro a sacar que usar os Jogos Olímpicos era uma forma de ostentar seu poderio. E não poupou esforços ao fazê-lo nos Jogos de verão de 1936, em Berlim – os primeiros a serem televisionados – e a exibir a ascensão da Alemanha nazista (embora a vitória do norte-americano Jesse Owens, um negro, nos 100 m rasos, tenha sido suficiente para colocar o plano do ditador em xeque). O fato é que Hitler fez escola e, nos dias de hoje, uma Olimpíada tem "até" esporte. Os Jogos de Inverno que estão sendo realizados em Sochi, na Rússia, dão a medida de quanto a política é capaz de esquentar a competição.

A começar pela questão da lei antigay aprovada no país, que tem roubado a cena. Fala-se mais nela e nos protestos causados por ela durante os Jogos do que nas competições. Foi o estopim que o mundo ocidental esperava para abrir uma ofensiva contra o que sobrou da antiga União Soviética.

Quase 80 anos depois dos Jogos de Berlim, uma lição: ninguém mais é inocente. Ninguém. De um lado, o presidente russo Vladimir Putin envolveu-se pessoalmente com a organização desses jogos com a intenção de reapresentar a Rússia ao mundo como uma nova potência (números da sua economia, porém, apontam que a coisa não é bem assim: o país teve diminuição do crescimento no último ano, o que deve se repetir em 2014), mas sendo metralhado de críticas pela lei antigay, por ser homofóbica, ferir o direito de igualdade do ser humano, além de acusações em torno da organização dos Jogos, como corrupção e má gestão dos 50 milhões de euros gastos para o evento.

Do outro lado, porém, nem todos os que protestam contra a polêmica legislação russa (aliás, o que os próprios russos acham dela? A saltadora Yelena Isinbayeva chegou a defendê-la no ano passado) o fazem apenas lançando mão da declaração dos direitos humanos. Repito: para muitos é pretexto para reavivar a rivalidade entre Oriente e Ocidente. Discussão que deveria estar para lá de demodê, mas que, pelo que rolou nos primeiros dias de competição em Sochi, ferveu.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e François Hollande, da França, não foram à cerimônia de abertura. Não chegou a ser um boicote, mas um tapa com luva de pelica. Nas imprensas norte-americana e italiana, charges de Putin retratado como os integrantes do Village People, patinador e jurado das competições. Ninguém vai perder a chance de cutucar o mandatário russo. Ah, sim, até dia 23 haverá muito esporte no gelo e na neve em Sochi, mas o risco de o jogo político ser o maior destaque da competição já é grande.

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