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Os técnicos de futebol deveriam ser avaliados apenas pelo viés corporativo, com as mais infantis e detestáveis regras de recursos humanos. Eles são decisivos para um time de futebol apenas quando mostram eficiência na gestão de pessoas e resolução dos problemas.

Treinadores têm uma rotina de trabalho complicadíssima. Com mais de 30 jogadores em mãos, eles maltratam o ego dos boleiros toda vez que escolhem apenas 11 para entrar em campo. Os preteridos, normalmente, criam caso e minam em curto prazo o ambiente. A planilha tática de um ‘professor’ serve apenas para mostrar poder aos atletas e exigir alguma disciplina do time. No varejo do dia a dia, os comandantes se destacam pela habilidade em conquistar as pessoas (‘capacidade de liderança’, conforme o bordão de RH) e a facilidade de detectar áreas de conflito no grupo.

Dado Cavalcanti parece promissor no posto exatamente por preencher esse perfil. Ao cobrar salários em público, ganhou a cumplicidade dos pupilos. Quando prega a rotatividade na equipe, ameniza a ansiedade dos que não desanimam com a chata labuta diária de treinos. Prefere perder um jogo a perder o grupo.

Vagner Mancini também encontrou um cenário favorável para exercer o posto administrativo. Todas as angústias de um elenco enclausurado e sob o regime da mordaça eram impossíveis de resolução por parte de Ricardo Drubscky – uma figura atrelada à direção do clube, embora com virtudes, visto como preposto. Mancini ouviu os jogadores, sobretudo quem mais gostaria de ter voz: Paulo Baier. Talvez tenha sido o salto invisível que mobilizou o Furacão. Simples assim, sem quadro negro.

Não há técnico vencedor sem usar a força da oratória, dedicar muito tempo para ouvir os subordinados (detesto este termo) e oferecer agrados. O pior jogador do elenco também exige atenção, aliás é o que mais exige. Ele quer o tal feedback. Cobra atenção e respostas para as suas caneladas. Necessita entender o porquê da reserva e quanto precisa melhorar para, enfim, ganhar uma chance. Na difícil tarefa de liderar, quem vira as costas para um, perde todos.

O complicado é ser um gerente de recursos humanos sem parecer. Até mesmo no meio do futebol, com baixa escolaridade e nenhuma compreensão do ‘mundo corporativo’, esses profissionais são vistos como pau-mandados – pois falam bonito, ditam regras e não ligam para sua família. Ao vestir agasalho, calçar chuteira e colocar o boné, o técnico se traveste de estudioso da bola. No fundo, uma bobagem para enganar jornalistas e dirigentes, além de cumprir à risca o clichê imaginário dos torcedores. Dentro de um vestiário, ele precisa ser amigo, confiável. Há comandantes que entendem muito de futebol e não sabem nada de gente. Esses não ganham nada. Para ser um vencedor precisa conhecer minimamente do esporte e o máximo possível sobre as pessoas.

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