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Acho que todo mundo tem um lado do corpo mais frágil. Um braço que não é tão forte quanto o outro, ou uma das pernas mais vacilante, um joelho problemático; um lado da cabeça que insiste em doer sempre no mesmo ponto, ou ainda com cabelos mais raleados do que o flanco oposto. Ou um olho que enxerga menos ou tirita quando sob tensão – é o que está acontecendo neste instante com meu olho esquerdo enquanto miro o relógio para checar o tempo que me resta para concluir esta crônica.

Eu mesmo quebrei a tíbia e o perônio da perna esquerda quando moleque e, desde então, sempre que jogo bola – coisa rara ultimamente – e viro o pé num lance, é batata: foi o esquerdo que falseou. Minha metade esquerda, portanto, é meu lado feio, obscuro, traidor; e o que sempre paga o pato.

Por que pensei nisso? Ah, sim, foi lembrando da Arena da Baixada e a recém-inaugurada reta da Brasílio Itiberê. Aquele lado do estádio, à esquerda da entrada principal da Buenos Aires, sempre foi motivo de chacota dos adversários. O "meio-estádio", como gostavam de zoar os rivais alviverdes e paranistas. Apesar da bela arena esportiva construída ali, faltando um terço de seu projeto original, ainda assim a face inacabada se transformou no tendão de Aquiles do torcedor atleticano.

Mesmo contando apenas com o piso inferior, já não se pode mais dizer que é um "meio-estádio". A reta da Brasílio Itiberê "fechou" a Arena e afastou definitivamente a maledicência.

Sempre que via pela televisão replays de lances em que a câmera capturava o vazio do lado esquerdo da Arena, sentia alguma decepção. Pensava se não era possível ao câmera-man evitar aquele ângulo, ir para o lado oposto e apontar para o jogo com a beleza estética que é a reta Getúlio Vargas ao fundo. Mas mesmo que os câmeras do gramado fizessem isso, ainda teria o problema das cabinas das tevês no alto da Getúlio. Era só a bola subir um pouco e ficava inevitável denunciar o "buraco" da grande obra.

Assisti ao jogo do Atlético e São Paulo, no último domingo, pela tevê. Foi interessante ver de novo gente sentada naquele lado do estádio, como já aconteceu na única partida em que torcedores habitaram o local, depois da construção da nova Arena. Foi no Atletiba de julho de 2005, quando ergueram as arquibancadas tubulares para a final da Libertadores, em vão, contra o mesmo São Paulo.

Se esta reta da Brasílio Itiberê já estivesse pronta à época, a história da Libertadores 2005 poderia ter sido diferente. Talvez o 1 a 1 do jogo no Beira-Rio, se jogado na Arena como está hoje, tivesse sido 1 a 0, como no domingo. Bem, mas isso não interessa agora. O que interessa neste momento é eu enviar esta crônica a tempo ao editor, porque meu olho esquerdo está pulando feito perereca.

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