• Carregando...

No domingo, a Folha mostrou trechos de uma en­­trevista do jovem De­­fe­­derico, do Corin­­thians, ao jornal Olé, da Argentina: "No Brasil, se preocupam muito com o físico e, a verdade, é que me sinto gordo, pesado. Não estou rápido como era. É muita academia e crea­­tina. Já engordei 4,5 kg e, mesmo que eu lhes diga que não me sinto bem, não me ouvem. Agora, jogo armando. Os outros vivem se chocando, vocês não têm ideia. E, quando paro a jogada (seguro a bola), todos vão à loucura".

A creatina é uma substância encontrada no músculo, muito utilizada pelos atletas, por orientação médica. Como é produzida pelo organismo, não é considerada doping.

Mano Menezes e a direção do Corinthians deveriam ver o lado positivo dessa entrevista. Defe­­de­­rico mostrou que é um bom observa­­dor do futebol e que tem opinião. Mais jogadores brasileiros deveriam ter esse comportamento.

Há um consenso de que o au­­mento da massa muscular é im­­portante para a evolução técnica de um jogador franzino, desde que seja bem feito, sem o uso de substâncias proibidas e/ou que possam trazer, no futuro, prejuízo à saúde.

As palavras de Defederico são mais uma evidência das mudanças que têm ocorrido no futebol que se joga no Brasil e das diferenças de estilo, cada vez maiores, entre o futebol brasileiro e o da Argentina.

Há, no Brasil, desde as escolinhas e categorias de base, uma seleção de jogadores altos e fortes para exportação, principalmente se forem bons de bola. Estes vão para os melhores times da Europa e para a seleção. O time brasileiro, com tantos jogadores altos, fortes e com talento, passou a ter ainda mais chance de ganhar a próxima Copa.

A seleção e os grandes clubes brasileiros possuem uma estrutura de apoio aos atletas, formada por médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, fisiologistas e nutricionistas, superior às da Europa. Nisso, o Brasil é primeiro mundo.

Na Argentina, continua a formação de muitos meias habilidosos, como D’Alessandro e Conca. Defederico ainda não mostrou no Corinthians o excelente futebol que jogava no Huracán. Já esse tipo de meia habilidoso é cada dia menos comum no Brasil.

A seleção brasileira sub-17, que foi eliminada na primeira fase do recente Mundial, parecia um time de adultos, altos e fortes. Já a da Argentina, eliminada na fase de mata-mata, parecia uma equipe de meninos.

Kaká, alto, forte e com uma extraordinária técnica, e Messi, extremamente habilidoso e fantasista, além de baixo, para o padrão do craque de hoje, são símbolos dos estilos diferentes do futebol brasileiro e argentino, mesmo sabendo que Messi foi muito jo­­vem para a Espanha.

Preocupa-me o futuro do futebol brasileiro. Não penso somente em resultados, como os torcedores e parte da imprensa. A solução não é formar jogadores baixinhos, habilidosos, porém pouco competitivos para o futebol que se joga, hoje, no mundo, nem um estilo com pouca beleza, de muita correria, dura marcação e jogadas aéreas, em que os jogadores vivem se chocando. Aí, será outro esporte, quase um rúgbi.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]