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O ser humano, na maior parte do tempo, é um animal de hábitos, rotinas e repetições. Os atletas, mais ainda. São também supersticiosos. Acham que, para dar certo, é preciso fazer sempre as mesmas coisas e do mesmo jeito. É a onipotência do pensamento.

No início dos anos 1960, o Cruzeiro tinha um centroavante que só fazia gols se saísse da concentração, na véspera do jogo, para encontrar sua companheira, em uma casa de prostituição. Era uma mistura de paixão com superstição. Não sei se ele gostava mais dos encontros ou de fazer gols. Des­­co­­briram suas fugas, o proibiram de sair, e os gols sumiram.

A mudança de rotina, e não o cansaço físico pela viagem de ônibus a Milão, pode ter atrapalhado o Barcelona, contra a Inter. Não é desculpa de torcedor. A alteração dos hábitos é um dos motivos de as equipes, de todo o mundo, jogarem pior fora de suas cidades.

Mais importante do que a mudança de rotina para a derrota do Barcelona foi a ótima atuação da Inter. O time italiano marcou e contra-atacou muito bem. Como escreveu Juca Kfouri, a vitória da Inter reforçou as convicções de Dunga. Além disso, os melhores jogadores hoje do Brasil estão entre os melhores da Inter.

Com a mesma estratégia da Inter, o Brasil, sob o comando de Dunga, ganhou várias vezes da Argentina. Jogando assim, a seleção tem boas chances de vencer a Espanha, um time brilhante e com o mesmo estilo do Barcelona. Da mesma forma, o Santo André, no Paulistão, e o Atlético, na Copa do Brasil, vão tentar vencer o Santos.

Gosto muito mais dos estilos de Barcelona e Santos (são diferentes), pela beleza e pelos resultados, mas não tenho a soberba de achar que essa é a única maneira de jogar bem e vencer.

O Barcelona passa também por problemas técnicos e táticos. Henry está decadente; Iniesta, contundido; e Ibrahimovic, longe de ser o craque que foi na Inter. Se a saída de Neymar for inevitável, tomara que seja para o Barcelona.

Como o Barcelona ganhou do Real Madrid com o lateral Maxwell de ponta esquerda, e Messi de centroavante, o técnico Guardiola se iludiu com essa formação, equivocada. Messi ficou prejudicado. Contra o Espanyol e no segundo tempo contra a Inter, o Barcelona jogou mal nesse esquema.

Se o árbitro tivesse anulado o terceiro gol da Inter, em claro im­­pedimento, as chances do Bar­­celona seriam maiores que a do time italiano. Com os 3 a 1, a Inter é a favorita para chegar à final. Mais uma vez, o imponderável poderá ter uma grande participação em uma decisão por jogos mata-mata.

A rotina, os rituais e os rígidos esquemas táticos são uma tentativa, sem êxito, de controlar as sombras do imponderável, o que não tem regras nem nunca terá, como diz a belíssima música de Chico Buarque.

Se o Barcelona for eliminado da Liga dos Campeões da Europa, e o Santos não vencer o Paulistão e a Copa do Brasil, os "idiotas da objetividade" vão sair de seus refúgios, disfarces e, eufóricos, vão dizer novamente que não dá para jogar bonito e vencer, como se o Barce­­lo­­na perdesse mais do que ganhasse.

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