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Certa vez, li que os códigos de comportamento de uma sociedade costumam durar umas três gerações. As coisas, mesmo as que não gostamos, ficam impregnadas em nosso inconsciente, em nossa alma.

No século passado, quando as ideias de Freud, um cientista da al­­ma, se espalhavam pelo mundo, os americanos, que querem ser sempre os melhores e os primeiros em tudo, convidaram Freud para uma série de palestras nos grandes centros científicos dos EUA.

Durante a viagem, Freud disse a Carl Jung, então seu amigo e discípulo: "Vou levar a peste aos americanos".

Os americanos escutaram o que não queriam, o que não co­­nheciam e/ou o que fingiam desconhecer, e não se entusiasmaram. Preferiram, como ocorre até hoje, a hipocrisia, além de ignorar os mistérios da alma humana.

Por isso os europeus, mais hu­­manistas e realistas – muitos di­­rão pessimistas –, gostam mais do que os americanos, da obra de Woody Allen. Nesta semana, vi e adorei o filme "Tudo pode dar certo". Apesar das incertezas e da transitoriedade, as coisas podem ainda dar certo.

Faço essa divagação, introdução, para falar de futebol e percebo que esse espaço, cada dia menor, está terminando. Será que os jornais impressos vão acabar? É a transitoriedade das coisas.

Já escrevi que não foi Dunga ou qualquer outro treinador, nem Ricardo Teixeira, o responsável pelas mudanças, dentro de campo, no futebol brasileiro. Exis­­te, há décadas, uma lenta e progressiva transformação, que ainda não acabou. Pode ainda fi­­car pior, ainda mais se Ganso e Neymar não se tornarem grandes craques da seleção.

Os responsáveis pela mudança são o negócio-futebol, o sentimento latino-americano de inferioridade, de achar que tudo na Europa é melhor, o exagerado encantamento dos técnicos e de parte da imprensa com a ciência do futebol, em detrimento da fantasia, a projeção no futebol do comportamento da sociedade e outros motivos.

Sei que é difícil mudar. Corre-se o risco de ficar pior. Mas é preciso tentar, com ousadia, conhecimento e seriedade. Para isso, é necessário também que ocorra algo novo, impactante. Talvez falte a peste.

Será que as mudanças, dentro e fora de campo, terão de o­­correr juntas? É uma vergonha para o país o presidente da CBF, seja quem for, ser o mesmo du­­rante 25 anos.

O futebol brasileiro precisa reaprender a sonhar.

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